O
VÍRUS ULTRALIBERAL ROMPE O CASULO E SE ESPALHA COMO UMA EPIDEMIA SEM CONTROLE.
Alguns teóricos respeitados mundialmente
como Paulo Freire, Jorge Orwell e José Saramago escreveram excelentes obras
literárias futuristas que devem ser revisitadas para entender o atual cenário
político e social brasileiro. Paulo
Freire, renegado pela elite acéfala é tido como herói em muitos países por ter
contribuído com sua pedagógica na supressão do analfabetismo. Escreveu obras emblemáticas
onde afirma que a escola que temos “fabrica” sujeitos oprimidos e maleáveis,
sob o controle das elites.
Tanto o currículo formal quanto o
informal, ambos são pensados para reproduzir conceitos, idéias e valores de aprovação
àqueles/as que nos oprimem. Essa insana natureza existencial repressora insiste
em se materializar no inconsciente coletivo, onde o sofrimento passa ser
compreendido como um fenômeno naturalizado e, portanto, passivo de ser
suportado.
Portanto, pode estar aqui à resposta
de um fenômeno social singular nesse século de tantos horrores no território
nacional, espetáculo midiático que deve ser compreendido a partir da obra de
Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. O fenômeno é uma figura caricata, que
apresenta todos os adjetivos possíveis que o credencia como alguém com perfil político
dos mais retrógrados, que mesmo assim abocanhou quase 70% dos votos dos
eleitores do Estado de Santa Catarina. Em estado, cuja mídia corporativista não
se cansa de vender a imagem lá fora de um dos melhores IDH e bem estar social.
Não há dúvida que o colapso do
tradicional modelo político tem como elemento motivador as praticas sorrateiras
de políticos e partidos que solapam parcela significativa do dinheiro dos
contribuintes sem qualquer retorno à altura dos cargos que ocupam. Já houve
várias tentativas de combater essas gastanças e privilégios, ajustando os cargos
ao modelo de países como a Suécia, no entanto, sempre é barrado por grupos
fisiológicos que a cada eleição se multiplicam e se entranham nas esferas do
poder, resistindo, tenazmente, às tentativas de perda de privilégios.
São os políticos corruptos que
tornaram o cenário da política brasileira, terra arrasada. Conseguiram nivelar por
baixo o trabalho de 580 parlamentares, cujo cargo conforme descrito na
constituição é servir os interesses da sociedade e não de grupos apadrinhados.
Uma sociedade com quase 80% de analfabetos estruturais é muito fácil forjar
cenários, de tal modo que milhões de desatentos, como “birutas” ao vento,
passem a agir consensualmente, como desejam certos veículos de comunicação de
massa.
Se refletirmos um pouquinho percebermos
que a população brasileira na sua trajetória histórica sempre foi forjada por
falsos heróis, aqueles fabricados pelas elites, que cobriram as mazelas e
falcatruas das classes dominantes. Tiradentes, Duque de Caxias, Getúlio Vargas,
entre outros tantos, que receberam nomes a ruas, prédios públicos, que
perpetuam no imaginário popular até hoje.
Já vivemos cenários parecidos com o
que estamos presenciando hoje, porém, tudo continuou igual ou pior quando o
povo, desiludido, decidiu por um salvador da pátria. Lembram do cidadão
fabricado Fernando Cólor de Mello, que prometera cassar marajás com golpes de karatê? Então,
foi eleito e dois anos depois foi deposto por um impeachment. O problema
brasileiro, é bom que se diga, está no modelo econômico aqui instituído,
controlado pelo capital, que sobrevive da exploração de milhões, que resulta
fome, ódio, intolerância, violência.
Quem ousa atacar essa ferida
histórica e quase crônica não tem êxito, é destituído pela via legal ou
intervenção militar, a exemplo de 1964. Historicamente o povo brasileiro sempre
teve expectativa de um messias, de um salvador da pátria, que solucionasse os
problemas da nação. Esse sentimento é motivado pelo forte traço patriarcal que
dominou e domina nossa cultura desde a ocupação pelos portugueses. Outro
aspecto importante a ser ressaltado é a falsa ideia criada de povo gentil,
ordeiro, solidário, tolerante, difundido pelas mídias corporativas e, até
mesmo, nas letras no nacional (se o penhor dessa igualdade), ou seja, uma
obrigação assumida.
Não demorou muito para que esse
mito viesse à tona expondo a face nua e crua de uma nação forjada na escravidão
e na cultura de um patriarcado moralista e intolerante. Bastou surgir uma
figura fabricada, forjada à imagem e semelhança da nação nada solidária que
veio a tona século e séculos de repressão e ódio escondidos nas profundezas do
inconsciente coletivo. É claro que toda essa repressão, ódio, permaneceu sublimada
por séculos, acobertados por templos que ser erguiam majestosos, frustrando o
ímpeto dos demônios desejosos em se libertar e alçar vôos.
Qualquer sociedade que se sinta reprimida
tende a buscar possíveis responsáveis para poder exorcizar os demônios da
insatisfação que atordoam a mente de seus cidadãos. Na Alemanha foram os
negros, ciganos, judeus, etc., cassados como ratos e lançados sem piedade nas
fornalhas dos campos de concentrações. Na Itália, também não foi diferente.
Outras tantas experiências no mundo mostram que esses processos extremos de
intolerância tiveram seu início em situações semelhantes a do Brasil hoje.
Muitos vão dizer, ah mas aqui é
diferente, aqui jamais acontecerá porque somos uma democracia solidificada,
falamos o mesmo idioma, cultuamos o mesmo deus, etc., etc. Os últimos episódios
mostram que essa democracia não existe ou nunca existiu, de fato. A crise
econômica, o avanço da miséria, a precária educação estão escancarando as
chagas de um Brasil violento, dividido, amaldiçoado pelo deus dinheiro, governos
e políticos corruptos, que se aproveitam da ingenuidade alheia.
Do mesmo modo que nos Estados
Unidos do século XIX, um violento e longo conflito colocou de lados opostos sulistas
e nortistas, no Brasil contemporâneo, da pseudo democracia racial, outro
conflito vem se desenhando - nordestinos e sulistas. Mais uma vez se buscam bode
expiatório à crise que avassala a dignidade do povo. Há, sim, um consenso burro
que permeia o imaginário de parcela significativa da população que
responsabiliza os irmãos nordestinos, nortistas, imigrantes, pelas mazelas dos
serviços oferecidos pelo Estado.
A expectativa de vitória de um
salvador da pátria já no primeiro turno frustrou milhões de brasileiros, cegos
pelo ódio, no instante que o resultado final de pleito assegurar realização de
segundo turno. Entretanto, isso foi à gota d’água para descambar uma onda
agressões nas redes sociais, principalmente contra aqueles que se diz de
esquerda, não importando se são militantes petistas ou de outras siglas oposicionistas
ao candidato que se revela um salvacionista, que usa o tema Brasil Acima de Tudo
e Deus acima de Todos, como grito de guerra. Na Alemanha Nazista, Hitler também
se utilizava da expressão Alemanha Acima de Tudo, como propaganda eleitoral.
Qual foi o resultado? Todos sabem, não é mesmo?
Os casos mais graves de
intolerância e ofensa vêm se dando contra grupos nordestinos, como se todos que
lá vivessem fossem responsabilizados/as pelas investidas neoliberais. O ataque
não acontece exclusivamente contra um único grupo, se espalha como uma praga atingindo
mulheres, feministas, gays, negros, imigrantes, indígenas, etc. As políticas
neoliberais dos governos que se sucederam contribuíram para que se chegasse a
esse momento tenso e preocupante. À perda de direitos e o enfraquecimento da
resistência dos/as trabalhadores/as deu fôlego para o recrudescimento da
burguesia ultra liberal.
A decadência do sistema educacional
público é um dos vetores na massificação de idéias completamente fora de foco
como a crença insana de que nazismo nasceu mesclado com conceitos de esquerda. Foi
esse o processo ocorrido na Alemanha quando grupos ultra liberais liderados por
Hitler criaram o partido Nazista (Nacional Socialismo) inspirado no comunismo.
Na realidade tal inspiração omitia sua verdadeira face de morte, contra todos/as
que não se encaixassem ao modelo político ultraconservador, que espalhou terror
por todos os cantos.
Tanto lá quanto aqui, quando
pessoas fazem tais interpretações equivocadas entre nazismo e comunismo é um
sinal explícito da profunda decadência do ensino formal. Valores como
solidariedade, gratidão, se perdem, abrindo brechas para um individualismo
doentio. Uma sociedade com fraca instrução se torna preza fácil de seitas religiosas
oportunistas, de líderes carismáticos toscos, fanáticos, que passam a controlar
as mentes e corações de pessoas, como manadas de bois caminhando direto para o matadouro.
Num momento confuso como esse o que
se poderia esperar seria uma forte resistência dos movimentos organizados como
os sindicatos. Por que isso não vem ocorrendo? A resposta pode estar no modo
como essas organizações se comportaram nos últimos anos, no lugar de fortalecer
a resistência, atuaram na desmobilização.
Não há dúvida, que o projeto
pensado pelo candidato do PSL é, sem dúvida, o ataque frontal às conquistas
históricas dos trabalhadores. Mostra-se tão claro que um dos primeiros setores em
decidir apoiá-lo foi o do agronegócio. Após sua credencial no primeiro turno, ambos
promoveram verdadeira romaria à sua residência no Rio de Janeiro, para beijar-lhe
os pés e felicitá-lo. E por que será? Lembram o que o candidato vem falando
sobre temas como meio ambiente, terras indígenas, áreas de preservação etc?
Essa é a resposta da empolgação e da romaria a cada do candidato.
A divulgação de nomes que poderão
ocupar alguns ministérios, já é um sinal de que a eleição já está ganha. Dentre
os listados está o polêmico Paulo Guedes, um ultra liberal, instruído pela Escola
de Chicago, Estados Unidos, a mesma que lançou os fundamentos para o golpe
militar no Chile, o primeiro pais do mundo a implantar o neoliberalismo. Mais
uma vez é bom que se diga que o Nazismo nasceu diretamente da derrota dos
trabalhadores.
A onda Ultra liberal no Brasil
parece ser mais contundente no centro sul do Brasil. E isso não é de hoje. Os
movimentos separatistas são um bom exemplo dessa tentativa de fracionar o
território Brasil. Reservada as proporções, o centro sul e em especial os três
estados do sul concentram leva enorme de descendentes Europeus, alemães e
italianos, que ainda tem recrudescidos sentimentos nazifascistas. Como um vírus encubado,
bastou um fragmento externo para que rompesse a membrana e se espalhasse, cegando
todos/as que estavam desatentos/as.
Como explicar votação acachapante
obtida pelo candidato Bolsonaro no estado catarinense, destacando municípios
como Treze de Maio, São Martinho, Rio Fortuna, Timbó, Turvo, Criciúma, com
percentuais próximos a 100%? A resposta poderia estar no discurso
ultraconservador e moralista do candidato que se encaixa com o que pensam e
desejam as famílias que habitam esses municípios? Quando dizemos que é um vírus
encubado, que rompeu a membrana e se espalhou contaminando mentes, no passado
tivemos o MOVIMENTO INTEGRALISTA semelhante a atual onde ultraconservadora.[1]
No extremo sul do estado de Santa
Catarina, nas eleições municipais de 1936 em Araranguá, por uma diferença de
500 votos, o candidato liberal Caetano Lummertz derrotou o Integralista Jaime
Wendhausem. No mapa eleitoral da época foi possível ver os redutos onde o
candidato integralista obteve os maiores sufrágios.
O curioso é que aparecia o distrito
de Turvo, o mesmo que hoje com o candidato do PSL. Dos 269 votos depositados na
urna, 185 foi para o candidato integralista, uma proporção bastante grande. Na eleição
de 2018, esse percentual seguiu a mesma proporção, 78,95%, o décimo entre os
295 municípios do estado com maior votação ao candidato de cunho integralista.
O que aspecto merecedor de atenção
é o modo como a onda ultra liberal vem se comportando frente ao principal
símbolo brasileiro, a bandeira nacional. O que era para ser um símbolo de
unificação social, como tem sido desde a sua criação, muitos ultraliberais insanos usam-na como marco de identificação, distinção dos demais. Desfraldar o
manto, desfilar em carros, estender em fachadas de casas ou prédios, é se
identificar com as “mudanças”, se opondo ao tradicional, velho, à continuidade,
àqueles que defendem à liberdade, à diversidade de gênero, à educação
transformadora, etc.
Prof. Jairo Cezar
[1] Dentro de sua filosofia, a Ação integralista, brasileira, se fundamentava
na concepção do universo e do homem, na imortalidade da alma, ou seja, na
vigilância e defesa dos fundamentos religiosos da pátria. O integralismo estava
fundido em quatro conceitos fundamentais: A FAMÍLIA, alicerce da vida nacional;
a AUTORIDADE DO CHEFE DA FAMÍLIA; O CULTO DAS VIRTUDES CRISTÃS; PROTEGER A
FAMÍLIA DOS COSTUMES MATERIALISTAS E PRINCIPALMENTE DO COLETIVISMO TOTALITÁRIO;
NA PROPRIEDADE, que visava manter os direitos de propriedade até os limites
impostos pelo bem comum. A propriedade tem um fim social, mas se torna
ilegítima, se não atende aos reclames do enriquecimento da nação e a
distribuição de benefícios sociais. O INTEGRALISMO é contra o LIBERALISMO, pois
este promete a liberdade, mas somente garante aos mais fortes, aos detentores
das riquezas; é ANTICOMUNISTA, pois este cria uma casta de exploradores do
trabalho; é defensora da LIBERDADE RELIGIOSA, a COOPERAÇÃO DO ESTADO para com a
RELIGIÃO pelas mudanças que melhor convir a ambas as partes. O Integralismo tem
também uma atitude de REFORMISMO SOCIAL, ou seja, reestruturar as estruturas da
nação, a planificação da economia pelo Estado, a socialização da indústria de
base, a reforma agrária que se dever tornar um projeto necessário. Para os
integralistas, o Estado tem como função a organização da nação. Portanto era
preciso construir um ESTADO FORTE, com uma NOVA ELITE, com uma organização
corporativa. Para o homem se realizar plenamente, deve ser levado em
consideração três aspectos: HOMEM RELIGIOSO, HOMEM ECONÔMICO E HOMEM POLÍTICO. No
Brasil, os integralistas formularam campanhas anticomunistas, como a rejeição
ao marxismo baseado na socialização dos meios de produção, ameaça comunista
compreendendo o futuro da América Latina, condenação da Revolução em Cuba
e a defesa da propriedade privada.
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