ONDAS DE FRIO
INTENSO, ESTIAGEM PROLONGADA, CALOR FORA DE ÉPOCA, SÃO SINAIS DO AQUECIMENTO
GLOBAL?
Imagen do Furacao Catarina - 2004 |
Há cerca
de trinta dias a população do sul do país e parte do centro oeste e sudeste do território
nacional foi alertada acerca de uma forte onda de frio polar que despencaria as
temperaturas a níveis a baixo de zero, com previsão até de volume expressivo de
neve nos pontos mais elevados dos dois estados do sul do Brasil. Com tais
previsões, a mídia brasileira se encarregou de fazer o trabalho quase que compulsivo
de despertar a vontade de milhares de brasileiros de subir a serra catarinense
e gaúcha na expectativa de apreciar a neve, que não veio, apenas chuvas
congeladas e um intenso frio que resultou em fortes geadas com enormes prejuízos
à pecuária e a agricultura.
Terminada
a onda de frio, que durou aproximadamente uma semana, talvez poucos ainda
tenham na lembrança aqueles dias gélidos, isso porque as semanas seguintes as
temperaturas se elevaram a tal ponto, quase trinta graus todos os dias, que
mais parecia verão em pleno mês de julho. O que chamou atenção do respectivo
fenômeno climático foi do frenesi comportamental das pessoas de querer ver neve
a todo custo, ao ponto de muitos terem de se acomodar em hospitais por não
haver mais leitos disponíveis para enorme público nas cidades que tendem a
ocorrer o episódio.
Durante a semana em que resultou nas baixas
temperaturas em grande extensão do território brasileiro, inúmeros telejornais
e a imprensa escrita não fizeram qualquer menção ou comparação do frio extremo
e da estiagem prolongada no sul do Brasil, das ondas de calor no hemisfério
norte, das queimadas que devastaram áreas gigantescas de floresta na Europa e
EUA, ao aquecimento global. Nos últimos três anos os dados coletados dos centros
de monitoramento do clima espalhados pelo planeta constataram a elevação
significativa da temperatura média, contrariando até mesmo as expectativas dos organismos
internacionais pró clima, que alimentam as esperanças nos protocolos assinados
nos encontros de cúpula sobre o clima, como a COP 21, realizada em Paris em
dezembro de 2015, em que os países mais poluidores se comprometeram por em
prática ações para reduzir as emissões de gases poluentes à atmosfera.
Paralelo
ao frio extremo no sul do Brasil, a região do extremo sul do estado de Santa
Catarina já estava sendo acometida por outra estiagem prolongada muito
semelhante a que se abateu sobre o estado entre os anos de 2011 e 2012, com
graves impactos na economia do estado. Os efeitos da escassez de chuva não
foram maiores por estarmos no inverno, cuja incidência da luz solar no solo ser
menor, pelo fato dos dias também serem menores. Também porque a região do
extremo sul do estado nesse período esta na entre safra do arroz irrigado, não
tendo ainda que disponibilizar água dos rios, que estão quase todos secos.
Esses episódios extremos do clima na região
que já vem se tornando corriqueiros poderiam estar sendo abordados com mais
ênfase pela imprensa local, regional e estadual, e é claro, nos ambientes
educacionais como tema transversal em todas as disciplinas, visando a sensibilização
quanto aos hábitos corretos relativos ao manuseio do solo, florestas e a água.
Um exemplo para elucidar os debates poderia ser os quase 60 dias de estiagem
que se abateu sobre a região, acontecimento climático jamais registrado pelas
estações meteorológicas da região.
Somente
o mês de julho, cuja media de precipitação de chuva nos últimos nove anos foi
de 150 mm, o volume chovido no mês sete de 2017, foi de ínfimos três
milímetros. Frio quase polar, calor fora do normal e estiagem prolongada devem
ser considerados e interpretados como motivados pelo aquecimento global. Ou
ainda há pessoas que não acreditam, desconfiam que tal acontecimento é um
blefe, como argumentou o atual esquizofrênico presidente dos Estados Unidos,
que rompeu com o acordo sobre o clima assinado em Paris em 2015, alegando que o
aquecimento é uma invenção dos chineses para destruir a economia americana.
Já
há alguns anos é verificado que as estações do ano, verão outono, inverno e
primavera, não seguem mais seus cursos meteorológicos normais, dificultando até
o planejamento dos plantios e colheitas agrícolas e de outros setores como o
turismo que dependem também das condições do tempo. Há poucos dias entidades
que monitoram o clima global ficaram apreensivos com o rompimento na Antártida
de um gigantesco bloco de gelo com cerca de 5 000 metros quadrado, equivalente
ao Distrito Federal, capital de Brasília. Mas o que isso tem a ver com as nossas vidas e
de milhões de espécies da fauna que habitam o planeta? Muita coisa.
Segundo
pesquisadores do clima, se outro bloco com as mesmas dimensões se desprender no
lado oeste do continente gelado, e correr o risco de se deslocar para locais
mais quentes e derreter, haverá a elevação média do volume do mar em 5 metros. É um volume que de acordo com pesquisadores tende
a se confirmar como catastrófico para muitas cidades próximas as áreas
costeiras. Além de alterar significativamente a geografia dessas regiões,
haverá impactos irreversíveis às cadeias alimentares, aumento da incidência de
doenças epidêmicas, migração massiva de pessoas para certas regiões específicas.
Com
respeito as macrorregiões do estado catarinense, a região do extremo sul que
congrega a bacia hidrográfica do Rio Araranguá vem se notabilizando como uma
das mais sensíveis e suscetíveis a fenômenos climáticos extremos, a exemplo do
furacão Catarina que assolou a região em 2004. Analisando atentamente duas
imagens obtidas do Google Earth, de locais e escalas distintas da bacia
hidrográfica do rio Araranguá, publicadas em 2015, é perceptível, na primeira
imagem, a ação destrutiva do homem sobre o ecossistema, suprimindo vasta
extensão de floresta nativa para dar lugar a plantações de arroz.
Inquestionavelmente
tais ações antrópicas sobre o solo podem estar contribuindo significativamente
para as oscilações da dinâmica micro e macro climática planeta. O primeiro
recorte de imagem abaixo possibilita a visualização de quase toda a planície do
extremo sul, constituída por rios e fragmentos de mosaicos da floresta
atlântica remanescente, que se mantém por força das legislações em vigor e
pressão de entidades ambientais que atuam fiscalizando e denunciando crimes
contra o maio ambiente.
O
processo de supressão da floresta foi tão violento que não foram poupados nem
mesmo os limites mínimos legais das APPs, as matas ciliares que protegem contra
a erosão as margens dos afluentes e subafluentes da bacia. Esse furor incondicional por novas áreas
agrícolas para além dos limites mínimos de APP são um dos motivadores de
inúmeras inundações ocorridas na bacia nas últimas décadas com profundos
impactos na economia e na vida das famílias.
O
fato é que com o desmatamento da floresta ciliar das margens dos rios e
córregos, quando a chuva incide sobre o solo, tende a escorrer para os leitos
transportando enormes volumes de sedimentos que se acumulam no fundo dos rios
provocando o assoreamento. Em 2012 um novo código florestal foi sancionado para
anistiar os criminosos ambientais, que dentre as resoluções aprovadas estão a recomposição
da reserva lega e vegetação ciliar.
Imagem - Google Earth |
Planície costeira, onde estão distribuídos os principais afluentes do rio Araranguá
Cinco
anos depois de sancionada a lei, observando a imagem abaixo relativa ao trecho
do rio Araranguá, no município de Araranguá, publicada pelo Google Earth em
dezembro de 2015, se observa a quase inexistência de floresta nativa e ciliar às
margens do rio. O que preocupa é o fato de que o mínimo do mínimo de vegetação remanescente
está sendo retirada, pior ainda, com o próprio consentimento dos órgãos
ambientais, que deveriam propor planos de recuperação e preservação do que ainda
resta junto a população e os produtores rurais.
Imagem Google Earth |
Curso do Rio Araranguá (Volta do Silveira e Volta Curta e Manhoso)
Nos
últimos cinco anos a natureza vem insistindo em dar alertas de que devemos
repensar nossas atitudes acerca do modo como lidamos com os recursos naturais.
O mau uso desses recursos, solo, água, vegetação, etc. tende a dar as respostas
de forma agressiva, como as estiagens prolongadas, cheias catastróficas e
outros tantos fenômenos já presenciados na região como o furacão, tornados,
etc. Entretanto, quem deveria dar exemplos de cumprimento das legislações em
prol do ambiente, que seria o governo federal, vem tomando decisões que
agravarão ainda mais o aquecimento global.
Prof
– Jairo Cezar
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