PROJETO
ESCOLA SUSTENTÁVEL
VISITA
AO MUNICÍPIO DE TREVISO, SUAS BELEZAS NATURAIS CONTRASTANDO COM OS ATIVOS E OS PASSIVOS
AMBIENTAIS RESULTANTES DA ATIVIDADE CARBONÍFERA
Há
quase dois anos que está sendo executado o projeto escola sustentável vem se consolidando
como uma importante iniciativa da EEBA no que tange as práticas permanentes de
sensibilização a toda comunidade educacional para a contenção dos desperdícios
de energia elétrica e água no referido estabelecimento de ensino. Inúmeras
ações já foram realizadas para divulgar o projeto, desde palestras com os pais,
estudantes e trabalhadores da educação, feiras e viagens educativas. O
envolvimento do curso de Engenharia de Energia da UFSC, representado pelo professor
Luciano Alves, e da CELESC, pelo engenheiro e professor Célio Bolan, proporcionaram
um impulso importante para a dinamização da proposta.
Com
a substituição de lâmpadas convencionais por Led e a fixação de comunicados nas
salas de aulas, banheiros, corredores, etc, alertando o público estudantil e o
corpo docente sobre o uso correto dos equipamentos elétricos e da água,
resultou, nos meses maio e junho de 2017, a redução de quase 50% na conta de
luz do educandário. A inclusão da temática água no projeto se deu no início do
ano letivo de 2017, alterando desse modo a nomenclatura da proposta original,
passando agora se chamar “Projeto Escola Sustentável”.
Atrair
o interesse do público jovem e dos professores ao projeto, envolvendo-os nas
diferentes atividades e quem sabe até inserir ao currículo formal da escola,
temas discorridos, foi decisão tomada pelos coordenadores, que estão se empenhando
em convidá-los para encontros periódicos na Biblioteca da EEBA. São cerca de 30
a 40 estudantes que vem se revezando nos encontros, elencando e mediando
propostas junto com seus colegas de classe. Como uma das primeiras iniciativas
de trabalho para o primeiro semestre de 2017, o grupo elencou como sub-tema “os recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Araranguá,
seus problemas e ações encaminhadas”.
Por
ser a bacia do rio Araranguá uma das mais degradadas do estado de Santa
Catarina por agrotóxico, resíduos de carvão, rejeitos orgânicos, desmatamento,
extração de seixos, entre outros, nada melhor iniciativa do que conhecer em
loco como tudo acontece, os responsáveis pelos crimes ambientais e as proposições
para o combate e recuperação dos passivos ambientais. O fato é que quase todos os afluentes e
subafluentes da bacia do rio Araranguá tem a suas nascentes na base ou topo da
serra geral.
Um
ou dois km depois das nascentes, a água pura e cristalina que desce das
montanhas, com um pH 7.5, de excelente qualidade, começa a receber os primeiros
efluentes poluidores, carvão, esgoto, dos quais vão se diluindo com outros
componentes químicos como agrotóxicos, até chegar ao seu destino final, a foz
do rio Araranguá. Já em solo Araranguaense, o mesmo líquido que brotou das
rochas, alcalina, seu índice de acidez atinge picos alarmantes de pH 2.0 a pH 3.0 que é
extremamente alto, onde impossibilita a proliferação de qualquer espécie viva.
Ouvir
as explicações dos professores em sala de aula sobre tais questões relativas à
água é uma coisa, mas ver, tocar, cheirar, sentir, tudo ao vivo é, com certeza,
outra sensação que jamais se esquecerá. Das propostas de municípios sugeridas para
a concretização dessa etapa do projeto, um dos coordenadores do projeto escolheu
Treviso, por conhecê-lo e ter familiarização com lideranças locais ligadas as
causas ambientais. O município de Treviso está situado a cerca de 70 km de
Araranguá, próximo a Siderópolis, onde também está integrada a bacia
carbonífera de Criciúma.
O
município escolhido também poderá oferecer ao grupo, além de cenários encantadores,
quase que paradisíacos, outras sensações nem tão encantadoras assim. Depois de
quase duas semanas de preparação, finalmente no dia dez de agosto de 2017, o
grupo composto por 28 estudantes e seis professores, se deslocaram para o
respectivo município, repletos de expectativas. Ao chegar a Treviso, o grupo
foi recepcionado pelo cidadão Mario Maneli, que é ambientalista, membro do
comitê da bacia do rio Araranguá e integrante da associação de moradores do rio
Morosini, comunidade histórica ocupada por imigrantes italianos a partir de
1891.
O
ambientalista Mario Maneli há muitos anos vem se empenhando na luta em defesa
dos mananciais hídricos do município e região, especialmente os subterrâneos,
densamente ameaçados pela atividade carbonífera. Do restaurante “Point 37”, de
sua propriedade, o ambientalista Mario acompanhou o grupo a uma pequena
comunidade ao pé da serra, onde residem cerca de 6 famílias ou 15 pessoas. No
trajeto, o respectivo guia foi mostrando aos estudantes algumas companhias
carboníferas instaladas às margens da rodovia e os problemas ambientais oriundos
do beneficiamento do carvão mineral.
Na
chegada à comunidade, o grupo se encantou com infinita beleza, o contraste dos imensos
penhascos da serra com a luz do sol e a vegetação do paredão. Na pequena
comunidade, um pequeno balneário foi edificado, aproveitando a geografia do
local e a pureza da água que desce a cachoeira. Acredita-se que possivelmente
nenhum dos integrantes do grupo presente no local já tivesse experimentado
sensação igual nas suas vidas. O empreendedorismo do proprietário do balneário
é de se surpreender. Para atrair turistas ou visitantes ao balneário, está construiu
uma infraestrutura para assegurar melhor mobilidade e segurança às pessoas.
Uma
singela igrejinha católica também foi edificada na comunidade, bem ao estilo
das primeiras capelinhas, construídas pelos imigrantes italianos. Para dar mais
opção ao visitante, que com certeza já se bastariam com as cachoeiras e o
visual da serra, o proprietário foi mais longe, erguendo uma réplica de residência
no estilo dos primeiros colonos italianos, transformando-a em museu. No interior
da residência estão reunidos imagens, objetos, utensílios, etc, das primeiras
famílias que ocuparam a comunidade.
Depois
de quase uma hora na comunidade, o grupo retornou, fazendo algumas paradas pelo
caminho para analisar em loco os problemas oriundos do carvão mineral. A primeira parada foi diante de uma área, onde
uma empresa mineradora estava depositando resíduos de carvão no solo e
cobrindo-o com terra. É um processo muito comum na região, que é adotado pelas
empresas que atuam na extração e beneficiamento de carvão. Entretanto, segundo
o ambientalista, esse procedimento é totalmente irregular pelo fato da barreira
estar situada em APP (Área de Preservação Permanente), ou seja, dentro dos limites
dos 50 metros às margens do Rio Mão Luzia, que deveria ser respeitado.
Mais
a frente, outra parada. Próxima estrada havia um córrego que conduzia água
contaminada por resíduo de carvão, do aterro, até um motor que bombeava a água para
o alto da barreira, que seria outra vez tratada e reconduzida ao rio. O que
chamou atenção de todos foi que ao lado da bomba, havia um canal, cuja água
contaminada, não bombeada, escorria para um canal, remetendo-a para o leito do
Rio Mão Luzia. Comprovava-se ali a prática de crime ambiental.
Propôs
o ambientalista Mario, que a coordenação do Projeto Escola Sustentável,
encaminhe também denúncia crime junto a FATMA (Fundação Ambiental Tecnológica
do Meio Ambiente), solicitando intervenção junto aos proprietários da empresa
mineradora para que repare o dano ambiental causando pela empresa mineradora
responsável. Um pouco mais a frente,
outra parada, onde dezenas de máquinas e operários atuavam na recuperação de
uma área degrada pela empresa carbonífera Trevoso, que decretou falência há
algum tempo.
No
entanto, segundo opinião do Superintendente da Fundação Ambiental de Treviso
que acompanhava os trabalhos no local, o mesmo informou que no momento que uma
empresa mineradora quebra a responsabilidade pela recuperação do passivo
ambiental fica sob a responsabilidade do Estado, sendo o Ministério Publico
Estadual e o órgão ambiental estadual seus fiscalizadores. Todo o investimento
para a recuperação do passivo é oriundo do próprio Estado, ou seja, de todo o
povo catarinense, esclareceu o servido público de Treviso.
Vários
questionamentos foram feitos ao representante da fundação ambiental de Treviso
e ao responsável pela execução do reparo do passivo ambiental. A primeira
questão se referiu aos crimes ambientais praticados pelas empresas a montante
do rio mão Luzia, se o mesmo tinha conhecimento? Informou que não é de sua
responsabilidade à fiscalização e sim da FATMA, que é o órgão encarregado pelos
licenciamentos e fiscalização. Argumentou que é necessário conciliar desenvolvimento
com preservação ambiental. No entanto, há situações em que é necessário ter
“bom senso”, pois são centenas de empregos diretos e indiretos assegurados por tais
empresas do carvão, que medidas mais restritivas poderiam comprometer o
trabalho dessas pessoas.
Depois
do almoço, por volta da 13h30min o grupo partiu para a comunidade histórica do
Rio Morosini, onde conheceria uma pousada, cujo proprietário adotou técnicas
avançadas, sustentáveis e de baixo custo para edificação dos chalés. Antes de
conhecer os chalés, os estudantes e os professores subiram a pé um morro onde
foram conhecer uma adutora de água, construída no alto do morro pela própria
associação de moradores. Próxima a adutora, existe um lago artificial com água
pura. Esse imenso buraco foi escavado no passado para extrair o carvão na
superfície do solo.
Mario
informou que atualmente o município de Treviso, especialmente os moradores da
comunidade de Rio Marosini, entre outras, vivem o pesadelo de terem suas fontes
de água comprometidas com as mineradoras que insistem em querer explorar o
subsolo da região. Explicou o guia que existe no subsolo uma grande rocha cuja
água escorre sobre ela, que é a mesma água que brota sobre o solo e abastece os
mananciais. As mineradoras no momento que vão extrair o carvão usam explosivo,
dinamite. Com a explosão, a rocha que segura à água, sofre fraturas, e o
resultado é o rebaixamento dos lençóis freáticos. Isso é terrível, catastrófico
para o ambiente, disse Mario.
Retornando
às cabanas, o que se constatou foi que para oferecer o máximo de conforto e o
mínimo possível de impacto ambiental, os moveis e utensílios das cabanas foram
construídos com madeiras recicláveis. O telhado, no lugar de telhas de barro ou
outro material sintético, foram cobertas por sapatas de grama, que tornou o
ambiente interno dos chalés ou cabanas, mais arejados. O que fazer com os
rejeitos do esgoto do banheiro e da cozinha para não contaminar o lençol
freático e as águas superficiais que escorrem por valas de cima do morro. A
estratégia adotada foi construir um sistema de esgotamento totalmente
sustentável para o reaproveitamento da matéria orgânica na fertilização das
plantas, sem contaminar o ecossistema local. Essa técnica de reutilização da
água, o próprio Mario adotou no seu restaurante, onde fez algumas demonstrações,
mostrando a eficiência desse sistema aos professores.
O
grupo ficou encantado quando o mesmo retirou de um tanque água quase
transparente em um copo. Disse que os níveis de impureza eram quase zero. Segundo
ele, para que a referida água possa ser consumida, basta somente aplicar cloro
e está pronta. Nas cabanas os procedimentos em relação aos esgotos são os
mesmos. Segundo Mario, nas pequenas comunidades, os proprietários poderiam
adotar esse sistema de tratamento dos efluentes orgânicos, alem de ser
extremamente barato, sua eficiência e extraordinária.
Enfim,
todos estavam esperando para o desafio final, ou seja, o empolgante passeio
pelas trilhas até as cachoeiras de um rio. Foram quase duas horas de caminhadas,
ficando de fora 4 ou 5, que se recusaram em participar por já estavam bastante
exaustos. Subindo por uma estrada pavimentada com pedras de cachoeira, tendo as
margens recobertas com eucaliptos, floresta nativa e um bananal, o grupo chegou
finalmente ao local decisivo, onde somente “os fortes conseguiriam”, a difícil
descida de um morro íngreme, repleto de obstáculos e tendo abaixo um rio. Foi um
trecho extremamente extenuante para alguns estudantes e professores. No
entanto, todas as dificuldades vividas no trajeto foram compensadas diante de tanta
beleza vista nas enormes paredes que margeavam o rio.
Caminhar
sobre as pedras no leito do rio, que continha pouca água devido a longa
estiagem dos últimos meses, ter de subir uma difícil parede de pedra lisa, foram realmente momentos
desafiantes. É claro que a empreitada não teria tido sucesso, se não houvesse o
emprenho de todos, que de uma forma ou de outra se mostraram camaradas, auxiliando
aqueles que mostravam mais dificuldade na caminhada. Chegando a cachoeira, se
notava nos semblantes de todos a satisfação de estar ali e de ter superado todos
os desafios. Mesmo com todo o frio que aparentava estar a água da cachoeira,
alguns estudantes, os mais ousados, não resistiram e arriscaram banhar-se num
pequeno fosso esculpido pela água que caía da cachoeira.
Prof.
Jairo Cezar