INSTITUIÇÕES SE TRANSFORMAM EM "BIG BROTHERS" DE CONTROLE
SOCIAL
Indiscutivelmente
o ser humano é entre os milhares de espécies de animais existentes o que apresenta
algumas peculiaridades que dependendo das circunstâncias pode levar a extinção
todos os ecossistemas. Não há como negar que numa pequena fração do tempo
geológico, pouco mais de dois milhões de anos, conseguiu desenvolver certas
habilidades cognitivas, transformando o mundo e a si mesmo. Desenvolveu também peculiaridades
importantes como o poder do livre arbítrio de decidir, de escolher caminhos, transpondo
barreiras para atingir a “felicidade plena”. No entanto, são esses e outros
adjetivos que lhe confere a capacidade singular de se constituir como humano
construtor de cultura. Não se caracteriza como ser vivo absolutamente biológico/instintivo,
conferido às demais espécies de mamíferos.
Um
aspecto necessário para tornar o humano humanizado é a sua natureza livre, capacidade
de se auto determinar, de ajustar-se seguindo normas que limitam ou disciplinam
sua mobilidade territorial e o convívio social.
Controlar passos, comportamentos espontâneos, ou seja, o próprio ritmo
moral, sexual, afetivo, religioso, político, etc., tornou-se obsessão coletiva.
É a força do inconsciente coletivo ditando o comportamento, moralmente
aceitável, no interior dos micros espaços. Isso não é um ato espontâneo, despretensioso,
segue padrões meticulosamente pensados, dando forma e ritmo aos movimentos das
massas, conforme os interesses dos donos do poder.
Nos séculos XVIII e XIX, construiu-se um
arcabouço social e arquitetônico que conferia ao Estado (Big Brother) o
principal agente disciplinador. No entanto, tal processo ocorria em todas as
estâncias, no lar, na fábrica, na escola, no hospital, no asilo e na própria
instância do Estado, conferida ao rei ou monarca, presidente, primeiro
ministro, etc. Ninguém estava imune ao olhar vigilante. Porém, nesse ambiente havia
o desperdício exacerbado de energia, podendo ser canalizado para elevar a
produção e desejo de consumo. Era necessário, portanto, estabelecer padrões
sociais, moralmente aceitáveis coletivamente, incorporando sensações de liberdade,
felicidade, de expectativa de sucesso pleno.
Esses
micros mecanismos de controle social atuam de forma avassaladora no
inconsciente individual e coletivo, pluralizando corpos, úteis ao processo
produtivo. Em um sistema econômico perverso como o capitalismo de consumo, as
frequentes crises sistêmicas aumentam a sensação de insegurança afetando a
própria estrutura produtiva e o status quo social, sem se dar conta que essas
instabilidades são resultados do modo como a sociedade se constitui. A
consequência de tudo isso são as mobilizações sociais reivindicando maior
participação do Estado em políticas de proteção. Porém, com raras exceções,
tais manifestações não tem um caráter revolucionário, transformador. São massas
reivindicando mais liberdade para consumir, mantendo em pleno funcionamento a
engrenagem desse grande relógio chamado mercado.
Não
dando conta de suprir tais demandas, como de assegurar a segurança individual e
coletiva, o que deveria ser uma das prioridades, o Estado transfere essa
atribuição ao seguimento privado, que vislumbra no horizonte uma extraordinária
reserva de mercado com lucros bilionários. Por trás do aparente objetivo que é
proteger o patrimônio e os próprios sujeitos, os novos instrumentos de controle
social, os famosos Big Brothers eletrônicos, se encarregam de exercer papéis
psicossociais de extraordinária relevância.
Muitas
foram as obras literárias de ficção produzidas, que se transformaram em
roteiros adaptados de filmes excelentes como a Lei de Truman; 1984, de Jorge
Orwell, entre outros, onde deram demonstrações nítidas do modo como os humanos “livres”
viveriam no futuro. E o futuro, portanto, são os “olhos eletrônicos”, câmeras
espalhados por milhares de ruas, empresas e demais instituições sociais como
asilos, hospitais, presídios, escolas, entre outros espaços vigiados vinte
quatro horas.
Imagem - Jornal Enfoque Popular
Quando
vigiados se tem a sensação que alguém está policiando, monitorando, ou seja, “protegendo”
através de grandes monitores distribuídos em um único lugar. Ao mesmo tempo em
que se utiliza como justificativa da instalação desses sistemas de vigilância
eletrônica a garantia de proteção, subliminarmente vai se construindo novos
sujeitos, guiados por forças onipotentes e onipresentes, no qual passam a
moldar atitudes, sentimentos, em conformidade com preceitos ditos como ideais do
Deus mercado.
A verdade
é que quando não questionados sobre os impactos desses dispositivos de controle
para suas vidas individuais, a sociedade irrefletidamente aprova, acreditando que
lhes dará maior segurança. A própria escola que se constitui como espaço laico,
de liberdade, de ausência de vigilância para que cada indivíduo desenvolva suas
habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras, vem se constituindo dia após
dia em um ambiente de absoluto controle.
Os corredores,
pátios de escolas, que historicamente se definiram como ambientes de
manifestações espontâneas transformam em lugares cujo olhar eletrônico, a
câmara instalada num canto qualquer, impõe padrões de comportamento. Qualquer um
que se opor ao status quo estabelecido, será interceptado e sugerido que se
adeque às leis, aos regimentos, aos bons costumes e ao slogan descrito na
bandeira nacional que determina ordem e progresso.
Prof.
Jairo Cezar
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