Governo e gigantes da agroquímica
colocam em xeque à saúde da população brasileira
Quando se pensa em revolução tecnológica de
imediato vem à mente os modernos computadores, internet e outros
equipamentos que tornaram possíveis tarefas que há décadas eram
consideradas impensáveis. No entanto essas transformações científicas devem ser
abordadas com ressalvas, visto que os avanços auferidos nas áreas da genética e
da química estão associados a uma poderosa estrutura de poder e fortunas
incalculáveis. São mega corporações transnacionais que comandam o mercado das
sementes e agrotóxicos como a Monsanto e a Dupont, que se utilizam do lobby
político para influenciar governos na flexibilização e elaboração de leis e
decretos autorizando a comercialização de produtos, muitos dos quais banidos
por conter componentes comprovadamente tóxicos, de alto risco à saúde humana.
A Monsanto, a gigante do setor agroquímico, sua
história iniciada em 1901 coincide com certos produtos produzidos por ela, que
compartilharam e vem compartilhando diariamente tanto no manejo agrícola como
na dieta de bilhões de pessoas no planeta. São inúmeras substâncias, algumas
delas comprovadamente perigosas como a Sacarina e a Bifenilas Policloradas, que
estão adicionadas em muitos dos produtos consumidos pela população como os
adoçantes e refrigerantes. O êxito da empresa na difusão dessas
substâncias especialmente da sacarina se deu com maior intensidade entre as
duas guerras mundiais devido à escassez do açúcar. Na década de 1960 outra vez
a multinacional causou apreensão mundial quando foi noticiado que os
Estados Unidos teriam utilizado componentes químicos por ela produzida, como o
agente laranja, para facilitar a ação dos soldados na guerra do Vietnã. Valem
ressaltar que este agente desfolhante tem na sua composição duas substâncias
comprovadamente tóxica e cancerígena, o 2,4,5 – T (ácido
triclorofenoxiacético) e o 2,4 D
(ácido diclorofenoxiacético)
A interferência dessas
empresas é tamanha que chega ao limite de ameaçar comunidades campesinas
tradicionais que ainda tem as sementes crioulas como principal fonte de
subsistência. São bilhões de dólares lucrados anualmente pelas gigantes do
setor como a Dupont-Pioner, Syngenta, Monsanto, etc., que juntas controlam mais
da metade das sementes e insumos distribuídos no planeta. O agravante é que os
países subdesenvolvidos periféricos cujas comunidades campesinas ainda têm sua
subsistência baseada nas técnicas tradicionais de cultivo agrícola estão sendo
brutalmente afetados pela ganância advinda dessas corporações.
Com a chegada do século XXI tais empresas vêm
investindo pesadamente nas pesquisas de sementes geneticamente modificadas, que
além de resistente a certos agrotóxicos, depois de colhida perdem a capacidade
reprodutiva. O risco dos transgênicos ou variedades estéreis é quanto ao
processo de polinização que poderá se espalhar e alterar todo ciclo reprodutivo
de espécies nativas. A política dessas empresas é converter milhões de pessoas
em escravos passivos e dependentes das sementes, dos fertilizantes e
agrotóxicos. Quanto ao impacto à saúde e ao ambiente, os resultados já são
constatados em algumas partes do mundo. O que resulta do uso excessivo de
agrotóxicos é o aparecimento de plantas e insetos resistentes a tais
substâncias, forçando o agricultor a aumentar a dosagem e as aplicações. O
efeito, portanto, é devastador, contaminando o solo, os cursos dos rios,
aquíferos e toda complexa fauna e flora existente. Sem contar as doenças
oriundas dessas substâncias que estão colocando em estado de alerta, regiões
onde o agronegócio predomina. Sobre as enfermidades provenientes
dos agrotóxicos, na França um cidadão acometido pelo mal de Parkinson conseguiu
na justiça ação indenizatória da empresa Monsanto. A alegação do tribunal que
deu ganho de causa a favor da vítima foi de que a doença tenha sido causada
pelo herbicida Lasso.
Na Argentina também ocorreu caso semelhante, onde
mães moradoras de uma cidadezinha do interior ganharam na justiça ação provando
que doenças das quais vitimaram centenas de crianças foram resultantes da
intensa exposição ao Endosulfan da Dupont e o Glifosato Roudup Ready da
Monsanto, substâncias quando aplicadas por aviões se espalharam pelo povoado
contaminando as pessoas. Para que se chegasse a tal decisão de condenação, o
tribunal da Argentina se baseou nas análises laboratoriais onde os resultados
confirmaram que: das 142 crianças moradoras na cidade, 114 continham
agroquímicos no organismo; dos 202 casos de câncer confirmados, 143 já tinham
resultados em óbitos; de ter ocorrido 272 abortos espontâneos; das crianças
nascidas, 23 sofreram de doenças congênitas. O que chama atenção acerca
dos números apresentados é que a cidade de Ituizaingó, na Argentina, onde
ocorreu a tragédia, possuía aproximadamente cinco mil habitantes.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Na-Argentina-uma-condenacao-historica-contra-o-agrotoxico-assassino/6/25588
Quanto ao Brasil o uso abusivo de agrotóxicos vem
se caracterizando como perigo iminente à vida, na qual deveria sofrer
interferência das agências internacionais de saúde impondo ao governo sanções
caso não promovesse mudanças nas políticas relacionadas aos agrotóxicos. O que
gera apreensão é que muitos dos herbicidas, inseticidas, fungicidas e outros
aplicados na agricultura foram proibidos há anos em outros países. O
alerta é quanto aos impactos que tais substâncias poderão gerar ao ambiente.
Entidades como o MPF (Ministério Público Federal) solicitaram a suspensão e
comercialização de nove variedades de agrotóxicos identificados como de alto
risco, dentre eles a Parantina Metílica, Lactofem, Farato, Carbofurano,
Abamectina, Tiram, Paraqueta, e o conhecido Glifosato, herbicida muito
utilizado no combate de plantas invasoras.
Além dessas substâncias, o órgão federal recomendou
a não importação do veneno 2,4D que segundo relatório relativo ao grau
toxidade, o produto possui componentes do Agente Laranja, substância
amplamente utilizada na Guerra do Vietnã e cujos efeitos ao ecossistema
do país são ainda sentidos atualmente. Há outro dado em relação aos agrotóxicos
que merecem ser mencionados. O Brasil tornou-se campeão mundial na
importação desses produtos aplicados na agricultura, porém, até outubro de
2013, estavam proibidos de serem importado quatorze variedades em decorrência
do alto teor de contaminação. O que preocupa as entidades de defesa
da saúde e do ambiente é quanto à postura adotada pelo Congresso Nacional de
ter aprovado em 2013 lei n. 12.873[1] que
autoriza a importação de agrotóxicos ainda não aprovados no Brasil pelas
agências reguladoras como a Anvisa (Agencia Brasileira de Vigilância
Sanitária). O que causou estranheza foi o fato do projeto de lei ter tramitado
nas comissões por cerca de um mês, tempo considerado curto para um tema tão
complexo. Além da lei, o governo sancionou paralelamente o decreto n.
8.133[2] no qual regulariza o Art. 53 da lei
12.873, que autoriza em situação de emergência a importação e aplicação de
agrotóxicos já banidos, para o combate de pragas.
É o caso, por exemplo, de uma lagarta que atacou as
plantações de algodão no oeste da Bahia. Com a aprovação do decreto pela
presidente Dilma Rousseff e respaldado pelo próprio governador da Bahia, voltou
à discussão o veneno 2,4D, que embora tenha sido vetado por decisão judicial,
sua comercialização na Bahia após decreto sancionado teve sua proibição revogada.
A própria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) admite que a
incidência dessa lagarta estivesse associada ao manejo inadequado das
propriedades onde os agricultores não seguem as recomendações dos técnicos. Com
ênfase ao argumento da empresa brasileira, presume-se que para as
gigantes que controlam o marcado dos agrotóxicos e das sementes modificadas, a
incidência de novas "pragas" corrobora para a ampliação dos seus
lucros. Qual o impacto desse processo para a vida humana e de toda complexa
cadeia de espécies associadas? Sem mencionar os venenos já adaptados à cultura
brasileira como o Roundap Road, o 2,4D, dentre outros proibidos em escala
internacional devido a sua alta toxidade, vêm se notabilizando como perigo
iminente a cadeia sistêmica na qual está incluída a espécie humana.
Pesquisas concluídas alertam que a absorção dessas
substâncias resulta entre outros problemas mutações genéticas, má formação
embrionária, contaminação do leite materno, distúrbios hormonais e
câncer. Há informações seguras que comprovam que a própria ANVISA
não teria ainda emitido pareceres conclusivos sobre a interferência endócrina,
metabólica e reprodutiva provocada pelo veneno 2,4D. As empresas que dominam o
setor de agrotóxicos procuram se defender justificando que os produtos
comercializados são amplamente testados e cujos riscos à saúde humana e ao
ambiente são nulos. No entanto os relatórios apresentados pelas instituições de
pesquisa independentes mostram o contrário. O perigo, segundo as instituições,
é em relação aos agrotóxicos associados, ou seja, a aplicação de inúmeras
substâncias sobre o solo e as reações colaterais provocadas. Na década de 1990
a Dra. Cate Jenkins, da EPA (Agência de Proteção Ambiental
Americana) elaborou memorando no qual alertava que: “a Monsanto
remeteu informações falsas à EPA, adulterando amostras de herbicida que
remeteram ao departamento do ministério da agricultura dos EUA para regularizar
o 2,4D e vários clorofenóis.” www.agrisustentável.com/trans/crisanto.htm
Deixa claro que tanto o governo, grandes
corporações e os segmentos ligados ao agronegócio, não demonstram a
mínima sensibilidade quanto aos riscos das suas ações à saúde da
população. Tudo está centrado na lógica do capital, do lucro exorbitante, da
exploração irracional dos recursos naturais. A justificativa utilizada pelo
Deputado Federal Catarinense Valdir Colatto (PMDB) represente da comissão de
agricultura da câmara quando da aprovação da lei n. 12.873/13, deixou
transparecer o sentimento dos demais representantes do povo no congresso quando
o assunto é o agronegócio. Segundo o Deputado a intenção da medida foi evitar
prejuízos como os 10 bilhões de reais na safra anterior.
Para contornar os prejuízos que reduziu os lucros
astronômicos de meia dúzia de latifundiários e do poderoso cartel dos
agrotóxicos bastou a aprovação de uma lei. Se vê que há certa insanidade nisso
tudo. Ao mesmo tempo em que se busca conter os prejuízos advindos por
incidências de pragas na agricultura, com a aplicação de agrotóxicos proibidos,
abre-se as portas para proliferação de doenças advindas de tais substâncias
muitas das quais degenerativos cujos custos de tratamento custeado pelo Estado
tornar-se-ão astronomicamente superiores aos prejuízos reclamados pelo
agronegócio. O agravante é que o próprio governo e seus órgãos fiscalizadores
são coniventes, que deveriam ser responsabilizado judicialmente por tal
insanidade.
Prof. Jairo Cezar
[1] http://saudeinspecaoanimal.comunidades.net/index.php?pagina=1421659797_16
[2] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Decreto/D8133.htm
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