Algumas considerações relativas a Assembleia Estadual do Sinte realizada dia 15 de abril de 2014, em Florianópolis/SC.
Depois da última Assembleia Estadual do
Sinte ocorrida em 18 de março de 2014 que colocou o Magistério Público Catarinense
em estado de greve, o dia 15 de abril, os trabalhadores (as) da rede pública
estadual reuniram-se novamente na capital do estado para avaliar o quadro de
mobilização estadual e a possibilidade da deflagração da greve. A expectativa
dos presentes no ato ocorrido no interior de um pavilhão ou “circo” armado nas
proximidades da Assembleia Legislativa dava mostras de que o encontro seria
marcado por tensões, visto que não havia pretensões concretas do grupo
majoritário do Sinte, a exemplo do dia 18 de março, à deflagração de
paralisação ou greve no presente memento. A dúvida, portanto, era qual a estratégia
ou manobra que adotariam para inviabilizá-la.
Durante as falas, o Coordenador do Sinte
enfatizou da necessidade de que as falas ou a assembleia não se estendessem
além das 16 horas por estar agendada naquele horário a votação da Medida Provisória
na plenária da assembleia que reajustaria o salário dos professores em 8,5%, bem
como uma emenda à medida provisória para o pagamento integral do reajuste,
retroativos a janeiro. Na análise de conjuntura, das falações proferidas, quase
todas deram ênfase as políticas repressivas do governo estadual contra os trabalhadores
(as) dos diversos seguimentos do serviço público. Foi mencionado o caso de uma
escola pública estadual em Florianópolis cujos (as) professores (as) se
recusaram a iniciar as atividades letivas por estar a unidade escolar em
péssimas condições. A própria comunidade se sensibilizou e abraçou a causa conjuntamente
com os (as) educadores (as), resultando em perseguições e ameaças dos (as) trabalhadores
(as) vindas do governo.
O Sinte de Florianópolis, frente ao
terrorismo praticado contra professores (as) e patrocinado pelo Estado com
fachada de “democrático”, determinou que no dia 30 de abril de 2014, data da
entrega da escola à comunidade, irá ocupa-la. O governo Colombo, argumentou um manifestante,
está conseguindo destruir a identidade das escolas públicas do estado quando
insiste em manter mais de 50% da categoria numa condição de trabalhadores
provisórios ou precários, que não conseguem manter vínculos permanentes com a
escola e comunidade. Além do mais discordou da postura de uma sindicalista, integrante
da CNTE, que insiste no argumento da lei eleitoral como justificativa para
inviabilizar reajustes à categoria, que é o discurso defendido pelo próprio
governo catarinense. Outro manifestante
lançou profundas críticas à postura de elementos que compõem a executiva estadual
do Sinte, que a proposta de defender a reeleição
da presidente Dilma, é manter-se conivente com as políticas do governo Colombo
que já disse em público que será aliado ou cabo eleitoral da presidente no
estado.
Sobre as sucessivas manifestações em
curso no Brasil, na qual fazem oposição às políticas antissociais adotadas pela
presidente, outra manifestante citou o fato ocorrido na cidade de Porto Alegre/RS,
onde manifestantes foram criminalizados por protestarem contra o aumento das
tarifas de ônibus, que a CUT e CNTE não estão mais a serviço dos interesses dos
trabalhadores. O agravante nisso tudo é a postura adotada pelo governo
brasileiro sancionando a Lei Antiterror como medida repressora visando
criminalizar e levar a prisão indivíduos envolvidos em atos que ameacem a
“ordem pública”. Outro participante comentou que o governo Colombo vem
reeditando métodos da ditadura e utilizando-os contra os servidores públicos. É
um governo apaziguado por uma quadrilha composta por deputados e partidos que
participaram da destruição do plano de carreira do magistério em 30 de junho de
2011, que é necessário e imprescindível que a categoria defina um calendário de
ações durante a copa. Em relação a postura dos partidos que se dizem fazer
oposição ao governo Colombo, não se pode esquecer que tanto o PT como o PcdoB corroboraram
com a eleição que indicou Juarez Ponticule para presidente da assembleia,
principal protagonista do projeto de lei que destruiu o plano de carreira dos
(as) professores (as).
Nos instantes finais da assembleia, a Coordenadora
do Sinte Regional de Criciúma lançou proposta de encaminhamento para serem
discutidas e votadas, dentre elas a realização da uma nova assembleia estadual marcada
para o dia 12 de junho, data o início dos jogos da copa, quando a categoria
paralisará as atividades por tempo indeterminado. Propôs que antes da assembleia estadual, fossem
promovidos atos no estado, cuja data prevista seria o dia 21 de maio, denunciando
as políticas perversas do governo Colombo e federal. Uma dirigente da CNTE, última escrita para a análise de
conjuntura indagou à plateia presente, perguntando quais as regionais trouxeram
indicativo de greve. Segundo ela, é preciso construir a greve, pois o governo
Colombo está “encagaçado” com a possibilidade de decretação de paralisação das
escolas.
Concluída as falas o Coordenador do Sinte
Estadual enumerou as deliberações elencadas para votação e aprovação da
plenária. Dentre as mencionadas, destacou o encontro estadual de combate ao
racismo; o documento repudiando a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) por criminalizarem os movimentos sociais, que
reconsidere sua posição; o apoio ao sintesp (sindicato dos trabalhadores do
serviço público), repudiando as perseguições dos servidores pelo governo, entre
outras. Quando a assembleia estava encaminhando para o seu desfecho, deu início
ao tumulto motivado pela confusa contraproposta lançada pelo coordenador
defendendo o mês de setembro como dada para a assembleia, não junho como propunha
a oposição. Na votação das propostas ficou evidenciado que a opção que recebeu
maior votação foi a de junho.
Na tentativa de reverter o processo e
garantir a proposta para o mês de setembro, o coordenador teve a audácia de afirmar que seria necessário
esclarecer melhor a proposta, para uma nova votação, pois o público não tinham
compreendido o teor das propostas que foram votadas. Explicitou, de forma
errônea, que a proposta encaminhada pela oposição era intensificar os atos ou
manifestações na tentativa de impedir a realização da copa, que seria,
portanto, essa, a proposta a ser votada pela plenária contrapondo com a
proposta de assembleia setembro. Indignado com a postura golpista do
coordenador, já visto em eventos passados como no Congresso de Fraiburgo, em
2013, Assembleia Estadual do Sinte, 18/03/2014, iniciou o tumulto que levou o coordenador a decretar o encerramento
da assembleia, sem consultar a plenária e sem pauta de luta, postura que levou expressiva
parcela dos presentes a solicitarem sua destituição imediata.
Não havendo mais clima para reorganizar
a plenária e encaminhar as ações que
faltavam, os (as) professores (as) foram para o interior da Assembleia
Legislativa acompanhar as votações da medida provisória que estabeleceria o
reajuste salarial dos (as) professores (as). A surpresa, quando se adentrou nas
dependências da casa legislativa, foi saber que a votação prevista para aquela
tarde, tinha sido cancelada e transferida para o dia seguinte, quarta feira, 17
de abril. O que teria levado o presidente da Assembleia a tomar tal decisão? Certamente
seria pelo fato de estarem ali presentes centenas de professores (as) de várias
regiões do estado, cujas votações e falas poderiam resultar em críticas e acirradas
vaias que certamente arranhariam suas imagens junto aos eleitores (as) das suas
bases eleitorais. Adentrando no plenário da assembleia observou-se que os (as)
deputados (as) da base governista tinham se retirado, permanecendo apenas o
secretario da mesa e deputados (as) da oposição vinculados aos partidos PT, Pc do
B e PSol. Em plena terça feira de
trabalho, à tarde, dos quarenta deputados (as) que integram a assembleia legislativa,
pouco mais de cindo estavam presentes, demonstrando nitidamente total
desrespeito aos contribuintes que pagam seus salários e com os (as) professores
(as) da rede pública estadual, onde certamente seus filhos jamais foram
matriculados.
Dentre os (as) deputados (as) que se
pronunciaram, a deputada Luciane Carminatti ocupou a tribuna fazendo uma breve
exposição acerca do livro publicado pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina,
que foi distribuído para todos (as) os (as) deputados (as) que traz dados
consistentes acerca do modo como os recursos públicos são gestados na educação.
Ressaltou que o argumento manifestado pelo governo de que não há recursos
disponíveis para o pagamento do piso do magistério, não condiz com a realidade.
Houve aumento significativo da arrecadação do estado, cujo percentual disponibilizado
para o Fundeb garante o cumprimento imediato do pagamento dos 8,5%. Segundo a
deputada no ano de 2014 serão gastos do Fundeb 93.52% com a folha dos
professores, representando 20% dos recursos entre os 25% que devem ser
investidos pelo Estado. A discussão é com os 5% restantes, onde serão
aplicados. De acordo dados do Tribunal de Contas, entre 2008 a 2012 o governo
de estado gastou indevidamente R$ 1,23 bilhão com pagamento de inativo, que
segundo a legislação o governo teria que utilizar recursos do próprio caixa
geral e não da educação.
Outro dado estarrecedor diz respeito a
aplicação dos 25% obrigatório sobre os recursos do Fundosocial[1]
e Seitec, totalizando R$ 816,97 milhões, que somados com o R$ 1,23 bilhão teria
disponível o equivalente a R$ 2,046 bilhões, não aplicados à educação como
determina a lei. Para 2014, segundo avaliação feita em janeiro, a previsão de
orçamento do estado foi de R$ 21,3
bilhões. Porém, o valor sofreu alteração, devido a uma nova avaliação realizada
em março pelo governo que estipulou um superávit ou acréscimo de R$ 2,046
totalizando R$ 23.5 bilhões de reais. Se o governo tivesse atendido as
solicitações da categoria e os 17 deputados votado a favor da emenda da medida
provisória determinando o pagamento integral dos 8,32% retroativos a janeiro, o
comprometimento da folha seria de R$ 300
milhões. Com a aprovação do parcelamento em três vezes dos míseros 8,32%, não
deixou dúvidas que o governo e seus comparsas quadrilheiros do legislativo que
votaram contra o magistério, vão se apropriar desses recursos para financiar
suas campanhas, negociando votos dos eleitores em troca de favores e a garantia
de permanecer no poder e assegurar as políticas repressoras e de precarização
do serviço público, sucateando a educação, segurança e saúde - vide Hospital
Regional de Araranguá – SPDM.
A partir de agora, todos os (as)
educadores (as) comprometidos (as) com a educação pública e o bem-estar da
população trabalhadora, pagadora de impostos e discriminada pelo Estado, terão
o dever ético e moral de sair às ruas e fazer
campanha para que a população não deposite o voto àqueles deputados que
votaram contra o magistério público catarinense, ou seja, contra a educação dos
(as) filhos (as) dos (as) trabalhadores (as). Não é a escassez de recursos
disponíveis a justificativa para terem votado contra o magistério. Os dados
financeiros acima mencionados não deixam transparecer nenhuma dúvida. Por que
tanta perversidade, desrespeito a uma categoria que mesmo com todas as
dificuldades enfrentadas, baixos salários, horários extenuantes de trabalho, se
esforçam ao máximo para cumprir sua árdua jornada de trabalho, muitas vezes excedendo
a sessenta horas semanais. Trabalhar numa escola pública depredada, caindo aos
pedaços, com salas cheias, sem recursos pedagógicos e riscos permanentes de
serem agredidos por estudantes é muito diferente do ambiente arejado, repleto
de segurança, onde “trabalham” deputados (as) estaduais e demais servidores.
São dois mundos completamente opostos, o da opulência e do descaso absoluto.
O espaço da sala de aula, quase tudo é
improvisado, da Assembleia Legislativa, um mundo quase perfeito, da circulam
pessoas eleitas pelo povo, para o povo, porém, longe das bases, votam leis
contra o povo, evidenciando suas
posições burguesas, eleitoreiras, aprovando projetos de interesse próprio, de grupos
econômicos ou governamental, como a medida provisória 193/14, parcelando o
reajuste salarial dos (as) professores (as). Dentre os deputados da região sul
do estado que votaram a favor da medida provisória concedendo 8,32% de reajuste
para o magistério os destaques foram Altair Guidi, José Milton Scheffer, Joares
Ponticelli, Manoel Mota, Valmir Comin e Ada Faraco de Luca. Nessa votação não estavam
na plenária, José Ney Ascari, Dóia Guglielmi, Joares Ponticellie e os petistas
Ana Paula Lima e Volnei Morastoni, sendo que a deputada Ana justificou sua
ausência na própria sessão da Assembleia do dia 15 de abril.
Na plenária seguinte para a votação da Emenda
Substitutiva Global da bancada do Partido dos Trabalhadores à medida provisória
na qual garantiria o pagamento dos 8,32% retroativos a janeiro, votaram contra,
a (os) deputada (os) Ada de Luca, Altair Guidi, Manoel Mota e Valmir Comin. Ausentaram-se
da plenária ou não estiveram presentes, Ana Paulo de Lima, que justificou a
ausência no dia anterior, Volnei Morastoni, Dóia Guglielmi, Joares Ponticelli,
José Milton Scheffer e José Nei Ascari. A Deputada Ângela Albino argumentou na
plenária da Assembleia Legislativa que a sua posição contrária a medida
provisória parte do princípio de que há mesma não apresenta embasamento
jurídico quando se trata de reajuste de servidores, que o procedimento correto
deveria ser mediante Emenda Complementar. Talvez, como argumentou a deputada do
Pc do B, os demais deputados do PT e do PSol, seguiram o mesmo caminho nas
votações.
Diante das
votações alguns parlamentares justificaram suas posições como o líder do
governo o deputado Aldo Schneider do PMDB que argumentou incapacidade do
tesouro do estado de pagamento de parcela única aos professores, que muitos
estados brasileiros passam pelo mesmo drama, não honrando com a lei do piso do
magistério. Segundo o deputado Derci Matos do PSD, o “reajuste parcelado dos professores
foi a única medida possível para não estourar o caixa do governo”. Não deveremos
jamais esquecer, que tais legisladores certamente estarão batendo à porta de nossas
casas daqui alguns dias pedindo nosso voto. A resposta que daremos é votando
contra qualquer um que tenha assumido alguma atitude prejudicial à classe
trabalhadora catarinense.
No rol da Assembleia Legislativa o bloco
oposicionista do Sinte se reuniu encaminhando para terça feira, 22 de abril,
reunião em Florianópolis para avaliar os reflexos do episódio do dia 15 para a
categoria e definir estratégias que serão adotadas para salvar o Sinte e restabelecer
a bandeiras históricas da entidade como o fortalecimento da base, esquecida nos
últimos anos.
Prof. Jairo Cezar
[1]
É um fundo de natureza financeira, destinado a
financiar programas e ações de desenvolvimento, geração de emprego e renda,
inclusão e promoção social, no campo e nas cidades, no Estado de Santa
Catarina, inclusive nas áreas da cultura, esporte e turismo, educação especial
e educação superior. A
educação especial será promovida por meio das ações desenvolvidas pelas Associações
de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE’s, situadas no Estado de Santa
Catarina. E, a educação superior
será financiada com bolsas de estudo integral.
Os recursos financeiros do FUNDOSOCIAL poderão ser empregados por meio da descentralização de créditos, da celebração de convênios e da concessão de subvenções sociais. A Administração superior do FUNDOSOCIAL é exercida por um Conselho Deliberativo e o órgão gestor é a Secretaria Executiva de Recursos Desvinculados da Secretaria de Estado da Casa Civil, a qual compete exercer sua administração orçamentária, financeira e contábil. http://www.scc.sc.gov.br/
Os recursos financeiros do FUNDOSOCIAL poderão ser empregados por meio da descentralização de créditos, da celebração de convênios e da concessão de subvenções sociais. A Administração superior do FUNDOSOCIAL é exercida por um Conselho Deliberativo e o órgão gestor é a Secretaria Executiva de Recursos Desvinculados da Secretaria de Estado da Casa Civil, a qual compete exercer sua administração orçamentária, financeira e contábil. http://www.scc.sc.gov.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário