AGRICULTURA FAMILIAR E AGROECOLOGIA TEM 82,75% DE RECURSOS DO PLANO SAFRA MENOR QUE O AGRONEGÓCIO
Enquanto
convivemos com um congresso majoritariamente dominado por parlamentares que
integram bancadas conservadoras, a exemplo do agronegócio, que tentam de todas
as formas sabotar políticas de caráter progressistas, no último dia 30 de
junho, mais uma vez o governo Lula, como um Robin Wood às avessas, presenteou os
ruralistas e grupos afins, com um plano safra bem robusto, agora serão 516
bilhões de reais disponibilizados para financiar a safra de 2025/2026.
Enquanto
o setor, que produz commodities, milho, soja, algodão, cana de açúcar etc.,
para exportação, receberá 8 bilhões a mais em comparação a safra passada, em investimento
público, a agricultura familiar, os que produzem para alimentar mais de 80% da população,
terão à disposição 89 bilhões de reais, ou seja, valor 82,75% menor que o
destinado ao agronegócio.
O que
revolta é saber que mesmo com toda essa benevolência financeira do atual
governo com o setor, visto como sendo bem superior à do governo anterior, que
os têm como um mito, na primeira oportunidade, voltariam a Brasília, tentariam
mais uma vez executar o plano golpista de tomada do poder que fracassou em 08
de janeiro de 2023.
A
crítica que faço ao atual governo acerca da diferença abissal dos recursos do
plano safra entre o agronegócio e a agricultura familiar, não significa que eu
esteja defendendo a ruptura desse governo em favor do ultraconservadorismo que
dominou o cenário brasileiro após o golpe político de 2016. O que não dá para
aceitar é o fato de o atual governo estar executando um programa de
governabilidade, loteando os ministérios e outros postos de primeiro e segundo
escalão, com políticos de partidos quem permanecem chantageando, sabotando os
projetos progressistas no congresso nacional.
Mas a
maior expectativa durante o anúncio do plano safra era se o presidente
assinaria ou não o decreto acerca do Programa Nacional de Redução de
Agrotóxicos, o PRONARA. A resposta foi sim, decisão que trouxe um pouco de
conforto, principalmente ao segmento da agroecologia, que por longa data, vem pressionando
o governo para que acatasse essa demanda, que traz tanto prejuízo ao setor e à
saúde da população brasileira. É possível que o decreto do governo que institui
o PRONARA tenha apenas um significado político midiático, pois não resultará em
mudanças significativas no cenário dos agrotóxicos no Brasil.
E por
que dessa certeza? Porque em 2024 o governo brasileiro autorizou a liberação de
mais 115 agrotóxicos, elevando para 663 produtos aprovados, desde o ano da
posse, 2023. Como acreditar na execução do decreto de redução de agrotóxicos
quando se sabe que o decreto deve ser referendado por vários ministérios,
dentre eles o da agricultura e da pecuária, no qual é gerido por um
representante do agronegócio, explicitamente favorável ao uso de agrotóxicos? É
como deixar os cuidados do galinheiro para uma raposa.
Outro
detalhe importante, desse valor do plano safra destinado a agricultura
familiar, 89 bilhões, o percentual para a agroecologia é muito menor, o pior é
que, nem todo o recurso é recebido pelos produtores devido a forte burocracia
que envolve os tramites para a sua liberação. Repito que mesma complexidade
acontece para aqueles que resolvem transitar para a agroecologia, pelo fato de
terem que cumprir com um mundo de demandas com riscos de perderem a
certificação. Fato que não ocorre com quem produz de modo convencional.
Retornando
ao decreto do PRONARA, a pressão para a sua execução é porque muitos produtores
orgânicos e agroecológicos estão abandonando às atividades devido a outro
problema considerado muito grave, o uso de drones na pulverização das culturas,
muitas das quais situadas no entorno das propriedades com certificação. Pois
não tendo uma regulamentação bem definida acerca do uso desses equipamentos,
muito menos fiscalização, o veneno aplicado nas plantas, muitas vezes
extremamente tóxico, atinge as culturas certificadas devido a sua deriva, ou
seja, transportado pelo vento a longas distâncias.
Há
algumas semanas muitos devem ter acompanhado um enorme navio cargueiro entrando
no porto de Itajaí transportando mais de seis mil veículos elétricos. Por que
relato esse fato? Porque o fato tem relação direta com nossa política
econômica, de país historicamente exportador de commodities, recursos
primários, grãos, minerais etc., e importador de manufaturas, de elevado valor
agregado. O plano safra tem envolvimento direto com esse cenário de
dependência.
Se
tivéssemos um plano para a educação pública brasileira, do infantil à
universidade, tão robusto como é oferecido ao plano SAFRA, aquela sena do navio
carregado de veículos chegando ao porto brasileiro, poderia ser invertido, ao
invés de estar descarregando aqui produtos da china, ela e outros países
poderiam estar recebendo nossos veículos, nossos equipamentos altamente
sofisticados. Porém esse cenário imaginário ainda vai permanecer por muito
tempo como cenário utópico.
Prof.
Jairo Cesa
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