ESTADOS UNIDOS ADOTAM
NOVAS ESTRATÉGIAS PARA MANTER INTACTA SUA POLÍTICA DE SUBSERVIÊNCIA SOBRE O SEU PRINCIPAL QUINTAL DE DOMINAÇÃO, A AMÉRICA LATINA
Desde
o começo do século XIX, os Estados Unidos vêm se colocando como país que tem
influenciado direta e indiretamente nos regimes de muitos governos no mundo
inteiro, tendo como principal trunfo sua forte capacidade bélica de destruição.
A doutrina Monroe, adotada pelo presidente James Monroe, em 1823, deu início ao
processo de interferência na América latina, sendo usado a partir daí o slogan “América
Para os Americanos”. Nesse período, a Inglaterra se apresentava como principal
potência bélica e econômica, motivava pela Revolução Industrial. Com o fomento
da industrialização nos EUA, passou-se a construir o discurso do
anticolonialismo, ou seja, divulgação de narrativas de que a América Latina não
deveria mais continuar sob a influência do império britânico, de que a região
teria que ficar “livre”, claro que agora sob o “guarda-chuva” dos Estados
Unidos.
Progressivamente,
as nações latino américas e do caribe passaram a sofrer intervenções do império
em construção, os Estados Unidos, que usavam como pretexto, o combate às
ameaças externas, dentre elas o monstro do comunismo, que “assombrava as
liberdades individuais”. A República Dominicana, em 1905, com o
pretexto de evitar uma invasão militar europeia sobre a ilha caribenha, com
intuito de cobrar dívidas contraídas, os Estados Unidos entram no cenário
aplicando a doutrina Monroe, interferindo nas alfândegas do país caribenho.
Nicarágua, Haiti, Panamá, Cuba, também sofreram intervencionismo estado
unidense e cujos reflexos são sentidos atualmente, como regimes tiramos,
guerras civis intermináveis, a exemplo do Haiti.
O
espectro do comunismo na américa latina a partir do início da guerra fria, 1947,
fez os governos dos Estados Unidos, que iam se sucedendo, a atuar como “xerife”
“às liberdades” às nações que apresentavam algum foco de mobilização
anticapitalista. A Guatemala, foi um
desses países afetados por um golpe sangrento arquitetado pelo imperialismo
norte americano e tendo apoio de ditadores da Venezuela, Nicarágua, República
Dominicana, entre outros. Com a institucionalização de um governo de base
popular, a Guatemala passou por transformações estruturais significativas.
Porém o estopim para uma intervenção externa que resultou no golpe de 1954, foi
a proposta do governo guatemalteco de promover uma profunda reforma agraria,
projeto que afetaria diretamente os interesses da United Fruit, poderosa
empresa norte americana que controlava a produção e comercio de bananas na
Guatemala.
Na
realidade, o golpe na Guatemala serviu como exercício, um demonstrativo, ou
seja, um ensaio para outros golpes semelhantes que iriam se suceder da li para
frente. Depois de décadas sob o domínio de um regime sanguinário e sendo um protetorado
dos Estados Unidos, Cuba conseguiu romper com esse domínio do norte por meio de
uma revolução político administrativa em 1958, tendo como principal líder,
Fidel Castro. Desde o momento da queda do regime de Fulgência Batista, lacaio
dos interesses norte-americanos, Cuba vem sofrendo de forma ininterrupta
embargo econômico dos Estados Unidos, com objetivo de fragilizar politicamente
o regime socialista da Ilha Caribenha.
Novas
intervenções estadunidenses que resultaram em golpes militares se
intensificaram principalmente na América do Sul. Além da Argentina, Uruguai,
Paraguai e Chile, o Brasil teve um governo eleito democraticamente derrubado,
cuja alegação foi de estar arquitetando plano de instalar o regime comunista
aqui. A participação de CIA no movimento golpista de 1964 foi determinante no
sucesso da ação. Tanto aqui quanto nos demais países do cone sul, governados
por ditaduras, o número de mortos e desaparecidos pelos regimes repressores superaram
os milhares. O fato agravante nisso é de os generais que atuaram na gestão do Brasil
durante esses 20 anos de ditadura, envolvidos nas atrocidades contra civis,
jamais foram levados aos tribunais para serem processados e sentenciados ao
cumprimento de penas contra os crimes cometidos. Diferente do país Argentino
cuja corte suprema levou à prisão muitos dos generais sanguinários.
Mesmo
com a redemocratização política das nações do cone sul, as centelhas do
golpismo jamais foram suprimidas definitivamente do cenário político. A
permanência das elites burguesas escravistas, muitas das quais vinculadas ao
latifúndio agroexportador, a qualquer descuido mostram suas “garras afiadas”
ameaçando regimes democráticos. Sem
esquecer que tais elites, tanto as agrarias quanto as industriais, sempre
tiveram e continuam tendo todo o suporte das forças imperialistas estadunidense,
muitas das quais intercedidas pelos seus comparsas infiltrados no congresso
nacional. O impeachment de 2016 contra a
presidente Dilma Roussef e o ato golpista de 8 de janeiro de 2023 são alguns
exemplos do poder dessas elites que sempre se alimentaram da ignorância e da
espoliação do trabalho de milhões de brasileiros. Retornarei a esse assunto
mais à frente.
Saindo
do epicentro América Latina, os Estados Unidos procuraram manter a sua
influência e sua superioridade bélica em todas as áreas de interesses. O
conflito no Vietnam e na Coreia pode ser compreendido como outro ensaio da sua
força destrutiva, ainda tendo como inimigo imaginário, o comunismo soviético,
em expansão devido a guerra fria. Porém,
o desfecho da intervenção americana no Vietnam foi avaliado pela opinião
pública como um fracasso dos Estados Unidos e de seus aliados. Mesmo assim, as
elites, por meio dos filmes, séries, documentários etc., tentaram de todas as
formas mostrar o contrário, que o imperialismo norte americano foi vitorioso.
O fim
do socialismo soviético, 1989, abriu caminho para que o imperialismo
estadunidense forjasse outros inimigos, para justificar a manutenção e até
mesmo o crescimento da sua poderosa indústria bélica. O Oriente Médio se
transformou no novo epicentro dos conflitos envolvendo grandes potências que
disputam o comando geopolítico dessa região estrategicamente importante para a
economia do planeta. Embora aparentemente não havendo mais o espectro do
comunismo da guerra fria, a Rússia e os Estados Unidos, ainda desfrutam de
forte influência no mundo globalizado. Agora tendo outros atores envolvidos
nesse imbróglio político, China, Iran, Índia e alguns países árabes, gravitando
tanto do lado da Rússia, como das potências ocidentais que integram a OTAN, e que
são aliadas dos Estados Unidos.
O
ataque as Torres Gêmeas do World Trade Center por extremistas da AL QAEDA em
2001, foi usado como justificativa pelo governo americano para empreender
investida bélica contra o regime de Saddam Hussein em 2003. O Iraque havia
invadido o Kuwait em 1990, porém, teve que abandonar o país em 1991, graças uma
coalisão de forças liderada pelos Estados Unidos. A argumentação do governo
americano na época para destituir o regime de Hussein era de que ele estaria
armazenando armas biológicas de destruição em massa, suspeita que jamais foi
confirmada. Combater o terrorismo passou a ser usado como pretexto para invadir
e suprimir regimes políticos.
O
Afeganistão também foi outro país atacado pelo imperialismo americano, também
tendo como justificativa o combate ao terrorismo. Após o 11 de setembro, os EUA
tinham informações que o líder da AL QAEDA, Osama Bin Laden, estava escondido
naquele país e protegido pelo regime do Taliban. Em 2001 o país foi ocupado
pelas forças americanas, com o apoio da Inglaterra, que resultou na prisão,
morte de Osama e na destituição do regime do Taliban. Passados 20 anos de
ocupação norte americana, em 2021, forças militares deixam o Afeganistão, abrindo
o caminho para que o regime do Taliban retornasse no comando do país e mantivesse
a sua política de violação de direitos principalmente em relação às mulheres.
O
conflito entre Ucrânia e Rússia, mais uma vez teve a interferência norte
americana com o fornecimento de dinheiro e armamento em favor do regime
ucraniano. Tentativas de pôr um fim no conflito que já dura três anos há pouco tempo
foram intermediadas pelo atual governo dos Estados Unidos, Donald Trump, porém,
sem sucesso. A derrocada da Síria, as ações do exército de Israel na faixa de Gaza
com mais de 60 mil palestinos assassinados até o momento, bem como o lançamento
de misseis as instalações nucleares do Irã, todas essas ações tiveram o apoio bélico
e logístico dos Estados Unidos, tanto na deposição do ex-líder Sírio Bashar al
al-Assad, como também nas ações contra o Irã, com o nítido propósito de derrubar
o líder religioso Xiita Aiatolá Ali Khamenei.
Além
dos conflitos no oriente médio e entre a Ucrânia e Rússia, outro conflito
passou a ter repercussão na economia do mundo inteiro, o conflito das tarifas
comerciais cuja o protagonismo também foi dos Estados Unidos com objetivo claro
de atacar a China, país em forte expansão econômica. Esse imbróglio tarifário iniciado
pelos Estados Unidos está sendo embasado na filosofia de campanha eleitoral adotada
por Donald Trump, cujo slogan foi “Vamos Fazer a América Grande outra vez”. A
elevação das tarifas de importação passou a ser fundamentadas com a ideia de proteger
suas indústrias, os empregos dos norte-americanos. Porém, em uma economia
globalizada essa medida vem provando ser ineficaz, cujo grande perdedor são os norte-americanos.
O
Brasil não ficou de fora dessas políticas de taxações, porém, no primeiro
momento, os índices estabelecidos para os produtos brasileiros não geraram
tanto impacto à estrutura produtiva. Isso até a última semana, começo de julho
de 2025, quando chegou a informação de que os estados unidos haviam imposto
tarifas de 50% para todos os produtos brasileiros que chegassem na alfândega do
país do norte. A notícia caiu como uma
bomba junto ao governo e a segmentos importantes que tem os Estados Unidos como
um dos principais compradores. No entanto, a indignação foi maior quando se soube
que a ação de taxação feita pelo do presidente norte americano ao Brasil foi influenciada
pelo senador licenciado Eduardo Bolsonaro, que vive atualmente nos Estados
Unidos. Se sabe que a estratégia do senador, bem como da extrema direita brasileira
era que com a elevação das taxações de produtos brasileiros se desestabilizaria
politicamente o governo Lula colocando a opinião pública com o seu governo.
Parece
que a estratégia bolsonarista do filho do ex-presidente agora inelegível e que
provavelmente será preso pelos atos golpistas em 08 de janeiro de 2023 não surtiu
o resultado desejado. O que é mais grave foi a postura de muitos parlamentares
bolsonaristas no congresso nacional, de terem concordado em elaborar moção de
louvor ao líder americano e ao senador Eduardo Bolsonaro. No documento
elogiaram as atitudes tomadas por ambos com vistas a pressionar o governo e o
STF em rever suas posições quanto as tratativas que vem sendo tomadas contra os
golpistas do 8 de janeiro. Independente do que aconteceu no congresso, diante
da moção de apoio ao governo norte americano pelas taxações em 50% aos produtos
brasileiros importados por aquele país, o fato é que tais atitudes são uma
demonstração nítida da continuidade histórica da subserviência das nossas
elites ao regime imperialista que insiste em manter nossas “veias abertas” para
sugar nosso sangue.
Prof.
Jairo Cesa