PRAIAS CATARINENSES SOFREM OS EFEITOS DO NÃO CUMPRIMENTO DAS POLÍTICAS DE SANEAMENTO BÁSICO
https://btmais.com.br/degradacao-ambiental-praiacentral-balneario-camboriu/
Segundo dados estatísticos do IBGE
de 2024, dos dez municípios catarinenses que tiveram maior maior crescimento
populacional, nove deles são municípios banhados pelo oceano atlântico. O
resultado disso é o que vem sendo observado a cada estação de verão, onde esses
nove municípios e os demais situados na faixa litorânea triplicam ou até mesmo
quadriplicam sua população. Por ser o estado de Santa Catarina um dos piores em tratamento
de esgoto, com apenas 34,8% tratado, o resultado disso é refletido nas praias
catarinenses, no momento que o Instituto do Meio Ambiente – IMA, apresenta suas
planilhas semanais sobre a
balneabilidade das mesmas. O que mais se observa a cada semana quando os mapas
do IMA são apresentados é o aumento significativo de pontos impróprios para o
banho.
Em termos comparativos, no dia
primeiro de novembro de 2024, o percentual de praias próprias para banho foi de
83%, dois meses depois o número de praias próprias caiu significativamente,
alcançando os 63,4%. Esses dados negativos servem de alerta para as autoridades
dos municípios litorâneos, ou se implementa emergencialmente as políticas de
saneamento básico, como o tratamento de esgoto e reciclagem de resíduos sólidos
ou estaremos matando a galinha dos ovos de ouro que são as nossas riquezas naturais
da nossa faixa costeira, responsáveis por atrair tanta gente.
https://balneabilidade.ima.sc.gov.br/
No entanto tudo leva a crer que o
cenário da balneabilidade que ora demonstra preocupação tende a piorar. Tal afirmação se deve ao modo como os
gestores municipais vem construindo e gerindo os seus planos diretores,
amplamente permissíveis ao crescimento imobiliário desordenado. Alguns
municípios costeiros até promoveram algumas ações para disciplinar o processo
ocupacional por meio do Projeto Orla, porém, nenhum deles teve seus planos
amplamente concluídos. Um exemplo é o município de Araranguá, cujo processo foi
iniciado em 2014, e uma década depois continua inconclusivo. Para frear a
pressão imobiliária na faixa costeira do município, três unidades de conservação
foram criadas por decreto municipal, uma delas a APA – Área de Proteção
Ambiental, sendo completamente suprimida em 2021, também por decreto municipal.
É importante esclarecer que a
existência de unidades de conservação nos municípios costeiros não impede que
esses mesmos municípios possam crescer e
se desenvolver. O fato é que a existência de uma APA, uma RESEX ou até mesmo de
uma APP, possibilita a população atuar nas decisões conjuntamente com o poder
público e a própria iniciativa privada sobre formas mais sustentáveis de gestão
desses territórios. Também o que se vê e
que é uma preocupação a mais sobre o futuro das praias catarinenses são
proposições que tramitam no congresso nacional, a exemplo da PEC 03/2022 que
trata sobre Áreas de Marinha. A aprovação desse dispositivo poderá tornar parte
das praias brasileiras espaços privados, excluindo ainda mais o povo no seu
direito constitucional de usufruir esses ambientes públicos.
https://www.cppnacional.org.br/publicacao/nota-p%C3%BAblica-n%C3%A3o-%C3%A0-pec-032022-privatiza%C3%A7%C3%A3o-de-terrenos-de-marinha
Algo que acontece com naturalidade
são as pessoas não se indignarem com o lixo, muitas vezes com esgoto correndo
por canais, contaminando as praias onde essas mesmas pessoas estão se banhando.
Nesse último final de semana, 04 e 05/01, estive visitando o município de
Itajaí. Estando lá aproveitei para ir em uma das praias bem conhecida e
procurada por turistas. Próximo ao guarda vida central, uma placa alertava que a
mesma estava imprópria para o banho.
Conversei com várias pessoas,
inclusive os próprios guarda vidas sobre as condições daquela praia. O que me
surpreendeu foram as respostas dadas por ambos, alguns atribuindo culpa aos
técnicos do IMA Instituto do Meio Ambiente do Estado durante a avaliação das
amostras. Uma cidadã, ouvindo eu falar com o guarda vida, me respondeu com
certa ironia afirmando que era só se alimentar bem e tomar bastante água que
não haveria risco de pegar doença.
Notei que essa praia, imprópria
para o banho, um córrego descarregava ao
mar água escura de uma lagoa importante daquele local. Fui mais próximo
verificar e constatei mau cheiro, era esgoto de edificações distribuídas junto
à mata atlântica, que me pareceu ser ocupações irregulares. O mínimo que os
banhistas deveriam fazer seria banhar-se o mais distante possível do córrego,
que não aconteceu. O que me causou mais perplexidade foi quando notei que
várias crianças estavam se banhando exatamente na foz do córrego imundo, cujo grau
de contaminação seria absurdo. Também haviam adultos com seus guarda sóis junto
ao córrego.
O fato é que o caso observado nessa
praia de Itajaí não é exceção, são cenas que
vem se repetindo em quase todos os balneários do estado, tendo quase a
metade de seus pontos de banhos impróprios por contaminação. Notamos que há uma
grande campanha articulada pelo próprio governo do estado estimulando a vinda
de turistas para as praias catarinenses. O problema é que muitas delas não
comportam tamanha demanda de pessoas, algumas saltando de 15 mil para mais de
100 mil habitantes durante a temporada.
Sem tratamento de esgoto e uma forte campanha
de educação ambiental, o resultado é exatamente o que percebemos, praias e mais
praias improprias para o banho. O caso do município de Balneário Rincão, no sul
do estado, é emblemático. No último relatório do IMA, 03/01/2024, todos os
cinco pontos avaliados, inclusive uma lagoa, comprovaram estar impróprios para
o banho. Dos quinze pontos avaliados no extremo sul do estado a partir do
Balneário Rincão a Passo de Torres, somente três comprovaram estar em condições
de balneabilidade.
https://balneabilidade.ima.sc.gov.br/
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