ENCONTRO
AMPLIADO DA REDE AGROECOLÓGICA ECOVIDA - MARINGA/PR – AGROECOLOGIA E DEMOCRACIA
NA PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE
Como
já ocorre a mais de duas décadas, de dois em dois anos, a rede ECOVIDA, que
integra os três estados do sul, realiza o seu grande encontro ampliado para
debater as políticas e outros temas relacionados à egroecologia. Dessa vez depois
de uma pausa de quatro anos em decorrência da COVID, o EARE ocorreu nas
dependências da Escola Técnica da UFPR, Escola Milton Santos, no município de
Maringá/PR, entre os dias 03 a 05 de novembro de 2023. Essa escola está
inserida ao movimento dos trabalhadores sem terra do estado paranaense.
Foto - Jairo |
Foram mais de quinhentas pessoas reunidas, que integram mais de duas dezenas de núcleos e grupos distribuídos em diferentes regiões dos três estados do sul, que juntas constituem uma complexa rede de produtores e consumidores de produtos agroecológicos. O tema gerador escolhido para o encontro de Maringá foi AGROECOLOGIA e DEMOCRACIA - PROTAGONISMO POPULAR e PRÁTICAS AGROECOLÓGIAS: RESPEITANDO VIDAS E PROMOVENDO DIVERSIDADES.
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Claro
que uma entidade como a ECOVIDA quando decide abordar temas tão espinhosos como
diversidade de gênero, feminismo, racismo, etc, deixou muitos membros escritos
ao evento, tomados por expectativas acerca do modo como ambos seriam debatidos
lá. Imaginem temas como feminismo, diversidade de gênero, racismo, práticas convencionais
de cultivo, tudo junto e misturado dentro do escopo da agreocologia, onde
grande parte dos envolvidos são famílias de pequenas e médias glebas terras,
muitas das quais que mal concluíram o ensino fundamental e médio.
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Na
sexta feira à tarde, dia 04, quase todos os mais de quinhentos inscritos já
estavam presentes e instalados nas diferentes acomodações da escola. Portanto,
depois da abertura do evento foi à vez de iniciar a primeira plenária com o
tema DEMOCRACIA E FEMINISMO NA AGROECOLOGIA. Três foram as convidadas para
explanar o tema, ambas as professoras de universidades públicas brasileiras e
com longas experiências nesse segmento relacionado às mulheres e ao feminismo.
Uma delas trouxe exemplo de mulheres que tombaram, ou seja, que morreram
assassinadas por lutarem contra um sistema opressor que historicamente tentam
manter as mulheres silenciadas e submissas a um modelo social machista,
misógino e repressor.
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A fala da segunda palestrante trouxe para o público, relatos de que no interior dos movimentos agroecológicos a mulher ainda sofre discriminação, muitas das quais vitimas de feminicídio. Na sua explanação destacou repetidamente a expressão “sem feminismo não há agroecologia e se tem racismo não e agroecologia”. Sua abordagem foi em querer trazer a luz certas verdades ainda cobertas por certa névoa de preconceitos, de invisibilidade, em relação ao negro, ao índio, a diversidade de gênero, amplos amplamente envolvidos nos movimentos sociais, a exemplo da agroecologia.
Disse
também que é importante acreditar na potência criadora a partir da auto-organização
das mulheres. A terceira palestrante abordou entre outras falas, as diferentes
violências acometidas contras as mulheres, na política de gênero, como aquelas
violências que as impedem de se expressarem, exporem suas opiniões, dores,
frustrações. Além do mais, reiterou a professora que não há como promover
mudanças na sociedade enquanto tiver um segmento como o agronegócio avançando
sobre os corpos dos sujeitos.
No
sábado, 04/11, pela manhã, foi a vez dos seminários, quatro ao todo. Os temas
abordados foram: 1 – Manejo Ecológico dos Solos e Saúde dos Cultivos: de volta
ao futuro; 2 – Redes de Sementes para superar os desafios da produção orgânica
co sementes crioulas e mudas agroecológicas; 3 – Democratização do Estado
Brasileiro e Políticas Públicas de agroecologia; 4 – Defesa das comunidades
tradicionais: ocupação territorial e desenvolvimento.
Embora tenha sido no último dia do EARE quando foram apresentados os relatórios dos seminários, contendo as discussões e proposições elencadas, quero aqui dar mais ênfase ao de número um, pelo fato de tido participação. É de conhecimento de muitos que os solos brasileiros ou tropicais têm características bem peculiares aos solos temperados ou semitemperados de outras regiões, como do continente europeu, onde parte do tempo extensas áreas de terras ficam cobertas por camadas de neve durante o inverno. Nesse sentido todos os anos, para um novo ciclo de cultivo, a terra necessita ser removida com arados, rotativas. Esse procedimento permite a descompactação e a sua permeabilidade hídrica.
Depois
da Segunda Grande Guerra, para que as grandes corporações que produziam
armamentos e outros insumos bélicos continuassem lucrando bilhões de dólares foi
necessário redirecionar a bússola do marcado focando nos países tropicais. É o
inicio, portanto, de uma extraordinária transformação de um sistema produtivo
que impactará direta e indiretamente a vida de milhões de pessoas no mundo
inteiro. Esse modelo produtivo revolucionário vai se configurar assumindo a
nomenclatura de Revolução Verde, com a introdução de toda uma gama de elementos,
químicos, físicos e biológicos, ainda estranhos no manejo dos solos e no
processo produtivo de grãos.
Esse novo modelo agrícola se tornará altamente desagregador dos solos e de toda biótica existente, como afirmou a professora IRENE, que discorreu o seu tema no seminário com o título Manejo Ecológico dos Solos e Saúde dos Cultivos: de volta ao futuro. Por cerca de uma Hora a professora Irene abordou com estrema lucidez essa temática, sendo no final aplaudida de pé por suas relevantes abordagens. A professora construiu sua fala a partir de três linhas de pensamento, ambas interligadas no sistema produtivo convencional: erosões dos solos, agrotóxicos e fertilizantes químicos.
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Tudo
isso junto e misturado por décadas, ambos resultaram em desgastes e perdas de
fertilidade. Com os desmatamentos que deixaram os solos nus, as chuvas lavaram
e levam consigo todo o solo contendo elementos químicos importantes como o
potássio e o fósforo. O que ficou e fica após a remoção desses elementos são os
óxidos de ferro e o alumínio, motivo pelo qual a sua elevada acidez, ou seja, apresentando
PH muito baixo, em decorrência do alumínio. A redução de fungos e outros microorganismos
no solo impedem a retidão da fertilidade do mesmo. A perda de vida se deve, por
exemplo, ao uso de adubos químicos, que são sais artificiais que não alimentam
a vida na terra. A presença de florestas
cobrindo solos ajuda e muito no metabolismo da fotossíntese do solo, processo
esse que conduz energia e demais elementos absorvidos pelas folhas, como o
carbono, que é depositado no interior das plantas e no solo.
A
palestrante afirmou que um solo coberto por vegetação, árvores, por exemplo, suas
raízes promovem uma intricada e complexa rede de intercomunicação, conhecidas
como a internet da terra. São essas raízes ou micro raízes que conduzem
alimentos e oxigênio que vão alimentar os bilhões de microorganismos. Junto às
raízes estão as micorrizas, minúsculos fios ou redes constituídos de fungos que
promovem um verdadeiro bombardeio de vida no solo. Entretanto,
parcela significativa do solo cultivável brasileiro vem carecendo dia após dias
desses importantes elementos vivos decorrentes do processo de mecanização
agrícola.
Um
dado preocupante. Atualmente o Brasil importa 75% do nitrogênio aplicado na
agricultura. Na sua aplicação são utilizados toneladas de combustíveis fósseis,
gás e petróleo. O que é estarrecedor é saber que 1% de todo o nitrogênio
despejado sobre os solos se transforma em ÓXIDO NITROSO, e que tal reação
produz 300 vezes mais poluentes que o CO2. Além do mais esse óxido também é
responsável pela destruição da camada de ozônio. Junto com o nitrogênio, o
Brasil também importa o Fósforo, cerca de 50% do total consumido no território.
As reservas desse mineral no planeta vêm reduzindo exponencialmente ano após
anos. Estudos confirmam que em menos de trezentos anos esse mineral estará
completamente extinto no planeta.
Não
há duvida que a agroecologia tende a ser a alternativa plausível ao uso desses
insumos sintéticos. Países como a Suécia vem desenvolvendo experimentos
relevantes, com urina humana que, comprovadamente, poderá substituir
fertilizantes sintéticos como nitrogênio e fósforo. A cada quinhentos litros de
urina humana coletadas é possível obter 6 kg de nitrogênio; 1 kg de potássio e
4 kg de fósforo. Esse material, portanto, deve ser espalhado no solo e não nas
folhas. Atualmente a quantidade de urina produzida pela humanidade é suficiente
para substituir ¼ dos atuais fertilizantes de nitrogênio e fósforo no mundo
inteiro. Além de gerar grande economia financeira esse mineral reduziria
impactos ambientais significativos.
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Em
2007 pesquisadores concluíram que o intestino humano é responsável direto e
indireto pelas doenças e a saúde. A flora intestinal ou microbioma intestinal
possui grande diversidade de microorganismos, sendo 10% da biodiversidade do
solo. O fato é que existe estreita relação entre microorganismos no solo e o
microbioma intestinal. Em outras palavras, a RISOSFERA do solo vive em nosso
organismo. Risosfera são finos e complexos conjuntos de raízes interconectados
nas plantas e no solo. São esses filetes os responsáveis pelo aumento das
populações de microorganismos, bem como controladores do PH do solo, liberando
íons de hidrogênio, ambos influenciando nas interações microbianas, elevando
por fim a disponibilidade de nutrientes.
É
importante afirmar que o que fizermos e fazemos de ruim ao solo refletirá
diretamente no nosso intestino, pois ingerimos alimentos que contém no seu exterior
e interior, nutrientes que estão solos, bem como as toxinas, fertilizantes
químicos e agrotóxicos, aplicados no seu desenvolvimento. Quem acompanha o dia
a dia da agricultura convencional, arroz, soja, milho, etc, já deve ter ouvido
relatos do tipo: “nessa safra tive que
adicionar mais agrotóxicos na lavoura devido ao aumento das pragas”.
É
desse modo que funciona, com o tempo os fungos e outros microorganismos vão
adquirindo resistência a determinados agrotóxicos, portanto, quando mais
agrotóxicos aplicados, mais agrotóxicos serão necessários para o controle de “plantas
e fungos indigestos”. Durante a
aplicação de químicos serão eliminados fungos, insetos, plantas e tantos outros
predadores, não é mesmo? Os que sobreviverem ao veneno não terão por sua vez o
predador natural, portanto, tenderão a se multiplicar e a exigir mais veneno.
Sobre
a temática dos agrotóxicos, tem uma pesquisadora da USP, Larissa Bombardi, que anos
atrás produziu um robusto estudo sobre os impactos dos agrotóxicos nos biomas
brasileiros, trabalho esse que resultou no MAPA DOS AGROTÓXICOS. As perseguições
e ameaças fizeram com que Larissa se exilasse na Bélgica onde reside até hoje.
Larissa relata a letalidade dos agrotóxicos na agriculta, bem como o poder das
grandes corporações no estrondoso monopólio da produção e comércio de
fertilizantes, agrotóxicos e demais insumos.
Não
há dúvida que o único meio possível de salvar os habitantes do planeta terra de
uma possível e real extinção é por meio da agroecologia e cultivo orgânico,
sendo essa trabalhada em quatro pilares: produção,
beneficiamento, comércio, consumo e reciclagem. O manejo agroecológico é, de fato, saber cuidar
do solo e dos pequenos habitantes, muitos dos quais invisíveis ao olho humano. Solo/terra
bem nutrido é sinônimo de saúde, principalmente para o ser humano, que se
alimenta do que a terra produz. Acredite, na terra existem bactérias que atuam
em nosso sistema nervoso impedindo entre outras enfermidades a incidência de
depressão.
Disse
a professora Irene que equívocos ainda são cometidos por profissionais que
estudam o solo. Se perguntarmos a um técnico agrícola como são os solos nos
trópicos, as respostas certamente serão quase consensuais, são ácidos, pobres e ruins. Se a mesma pergunta for para
integrantes de comunidades tradicionais, indígenas, por exemplo, as respostas
serão bem diferentes, a terra é nossa
mãe, que nos da vida, portanto, terra é a comunidade dos seres vivos. A
acidez ou a pobreza do solo se devem as formas equivocadas de manejo,
especialmente de uma agricultura convencional altamente depredatória dos solos.
O
fato é que pode ser possível combater todas essas anomalias do solo, nutrindo-o,
assegurando maior deposição de carbono do que sais. O solo é como o organismo
humano, o sal ingerido traz certas deficiências ao metabolismo das plantas. O
solo, portanto, precisa de diversidade de plantas, arvores, etc, formando
complexa rede sistêmica conhecidas pelo nome de teia da vida.
Depois
da apresentação do tema dinâmica do solo e sua complexidade sistêmica, pela
professora Irene, foi a vez do professor e pesquisador Laércio, que integra um
núcleo agroecológico no norte do RS. O tema que explanou foi TROFOBIOSE,
inspirado no livro de um pesquisador Frances conhecido pelo nome de FRANCIS
CHABOUSSOU, com o título Plantas doentes
pelo uso de agrotóxicos. Na concepção do pesquisador Frances e também
aceito por Laércio, as plantas quando adoecem ou são atacadas por fungos,
insetos, etc, são indicadores de que algo de errado está ocorrendo no manejo
dessas plantas.
Nesse
sentido a proposta da obra é alertar o agricultor para que observe o modo como acontece
o manejando do solo, que há deficiências de nutrientes no mesmo impedindo as
plantas de crescerem saudáveis. A
adubação química e o uso de agrotóxicos provocam inibições da síntese de
proteínas e causam acúmulo de aminoácidos livres no suco celular. Laércio
fez um relato histórico de suas experiências na agroecologia, citando nomes
importantes como José lutzenberger e Dalvino Magro. O segundo nome, Dalvino
Magro é considerado o mago da agroecologia, por ter desenvolvido um dos
importantes compostos naturais para revitalização do solo, e que recebeu o nome
de super magro.
A
terceira e última apresentação do seminário manejo ecológico dos solos foi do
professor pesquisador Jamil Fayad, cuja formação acadêmica é nutrição. Sua
abordagem foi sobre um sistema de cultivo que tem a seguinte sigla, SPDH –
Sistema de Produção Direta de Hortaliças. Para os mais experientes quando vêem
essa sigla rapidamente respondem, esse sistema se conhece há muito tempo, sendo
largamente adotado pelo agro convencional em quase todo o Brasil. Sim, de
início quando o professor apresentou a sigla, tive a mesma sensação, porém,
durante sua explanação mudei drasticamente a opinião.
O
sistema, SPDH, vem sendo aplicado na agroecologia, tendo como princípio
compreender a dinâmica do solo e de seus habitantes. Afirmou o professor que na
agricultura familiar produtores só sabem usar venenos e remover o solo com
arado e outros implementos agrários. Não sabem que é possível produzir até
mesmo em quantidade superior à convencional sem o uso desses mecanismos
impostos pelo mercado. Disse que o solo é como o corpo humano, que na falta de
alguma substância, nutrientes, por exemplo, começa dar sinais de deficiência
nas plantas, tornando-as doentes e levando a morte.
Relatou
o professor, casos de assentamentos, onde os assentados recusavam a adoção do
modelo SPDH no seu cotidiano no campo. No inicio da apresentação, o professor
exibiu desenho de uma vaca cujas tetas
estavam conectadas com teteiras mecânicas. Metaforicamente, o leite era
transportado por mangueiras para grandes corporações, bancos, companhias que
controlam o comércio de sementes, insumos, venenos, etc. A ideia do SPDH têm
por princípio libertar-se paulatinamente desse sistema de domínio, ou seja,
empoderar os produtores com conhecimento e técnicas alternativas de cultivo com
baixo custo econômico.
Destacou
que essa técnica deve estar amparada por dois eixos, o eixo político e o eixo pedagógico.
O pedagógico se fundamente na educação, na detecção de sinais emitidos pelo
solo e plantas. Na agricultura convencional, o manejo se dá a partir do
controle das pragas e não a verificação da saúde do solo. Usou também outro
exemplo que mereceu reflexão. Habitualmente quando indivíduos vão ao hospital
ou clinica, o médico geralmente trata a doença e não o indivíduo. Na
agricultura segue o mesmo procedimento, a agricultora sempre vai para a lavoura
procurando alguma pereba na planta.
Entendendo
o solo, tornando-o saudável com a aplicação do SPDH, progressivamente vai se
tirando as “teteiras da vaca”. O professor Jamil trouxe o exemplo de uma
família produtora de chuchu, que conseguiu elevar de 30 toneladas para 115
toneladas em treze anos sem aplicar nada chuchuzeiro. Enfim, para resumir, a
técnica do SPDH deve ser interpretada como um sistema de PRODUÇÃO DIRETA NO
VERDE. Porém, para alcançar os resultados desejados é necessária mudanças de
paradigma no modo de pensar e agir sobre o solo. O sucesso será alcançado
quando acontecer o engajamento de todos, rompendo com a cultura do
individualismo, premissa da agricultura convencional.
No
domingo, 05/11, último dia do encontro da rede ECOVIDA, durante o período da
manhã, integrantes dos grupos que coordenaram os seminários fizeram suas
explanações acerca do que foi discutido e elencado nas apresentações. O
primeiro a apresentar foi o grupo que discutiu o tema Democratização do Estado Brasileiro e Políticas Públicas de Agroecologia.
Afirmou que a agroecologia ainda é um
sistema produtivo carregado de preconceito pela população, que esse modelo deve
ser inserido também manejo convencional. Sobre democracia, foi concluído que a
mesma deve ser aplicada diariamente, na família, nas relações e também
discutido no coletivo. Outro ponto debatido foi sobre as rígidas regras
impostas àqueles/as que atuam na agroecologia, rigidez que não acontece com
quem cultiva no modo convencional. Em relação aos jovens, a agroecologia
contribui para mantê-lo no campo.
A
segunda apresentação tratou a questão da rede de sementes para superar os
desafios da produção orgânica, com sementes crioulas e mudas agroecológicas.
Por cerca de dez minutos um integrante do grupo expôs as inúmeras demandas
elencadas, dentre elas a construção de um GT (Grupo de Trabalho), de sementes,
na rede ECOVIDA, com a participação de no mínimo um integrante por núcleo. Isso
se faz necessário pelo fato de as legislações em curso, entre outras previstas,
dificultarão ainda mais a pratica da horticultura no manejo agroecológico. Foi
discutido também da necessidade de mobilizar o setor de sementes e mudas para
que irem até Brasília, pressionar o governo e o MAPA, para que revogue os
prazos de transição de sementes e mudas convencionais para orgânica. Atualmente
é obrigatório o cultivo de 25% de variedades orgânicas na horta, sendo que para
2024 esse percentual aumenta para 40%.
O
terceiro tema discorrido dos seminários
foi sobre defesa das comunidades
tradicionais: ocupação territorial e desenvolvimento. Nesse encontro estava
presente o deputado estadual do PSol de Santa Catarina, Marquito. Segundo a relatora
do tema, a mesma ressaltou que o deputado trouxe para o debate uma de suas
bandeiras de luta no parlamente estadual catarinense que é a defesa das
comunidades tradicionais no estado. A defesa dos grupos indígenas que vivem no
entorno das barragens de contenção de cheias, a exemplo a barragem no município
de José Boiteux, no vale do Itajaí, que vivem 10 comunidades, são uma dessas
bandeiras.
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Nas
enxurradas de outubro, essa barragem foi aberta, inundando 15% da área habitada
pelos Xoklengs. Houve confrontos com a polícia que resultaram em inúmeros
indígenas feridos. Explicitou a relatora
que não existe desenvolvimento sem falar de corpo, mente e território. Que as
lutas desses grupos, indígenas e quilombolas, são invisibilizadas, que é
preciso torná-las público e um dos caminhos é o MABE (Movimentos Atingidos por
Barragens).
Durante
os três dias do encontro ampliado da rede ECOVIDA, todo o ambiente do evento,
as cores, as mensagens, as letras das músicas cantadas nas noites culturais,
tudo refletia a percepção da diversidade, do desejo à inclusão e o fim dos
preconceitos. As falas de representantes de grupos pretos, indígenas e LGBTQI+,
refletiram exatamente gargalos existentes na rede e que deve ser trabalhado
intensamente para a superação. Como confessou um dos participantes do encontro
e que representa a etnia negra: o preto tem que batalhar muito para ser
reconhecido.
Diante
do exposto, foi criado o GT Povos
Tradicionais, Abrindo a Fronteira para Agroecologia. Uma das integrantes do
grupo LGBTQI+, também confessou da existência de um imenso tabu em relação a
esse segmento de gênero na rede. Entretanto, disse, se a agroecologia presa pela diversidade, na sociedade todos somos
diferentes e é isso que deixa o mundo mais colorido. O último a expor e que
também representa o grupo gênero, destacou que o banner do encontro da rede
ECOVIDA tem estampado as cores do arcoires ao fundo. Entretanto o preconceito e o moralismo imperam
na nossa sociedade, que há ainda homofobia na rede agroecológica, que pessoas
não se sentem encorajadas para se expor.
Prof. Jairo Cesa
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