COPAVI (COOPERATIVA DE PRODUÇÃO
AGROPECUÁRIA VITÓRIA) PARANACITY/PR – UMA EXPERIÊNCIA DE ORGANIZAÇÃO PAUTADA NA
ÓTICA SOCIALISTA
No
sábado, 04 de novembro de 2023, durante o período da tarde um grupo de 35
pessoas que participavam do encontro ampliado da Rede ECOVIDA, em Maringá/PR,
foram conhecer a COPAVI, cooperativa de um assentamento do MST, na cidade de
Paranácity, distante uma hora de Maringá. A visita a cooperativa proporcionou
aos visitantes profundas reflexões acerca da possibilidade de solucionar o
problema da fome da humanidade adotando praticas coletivas e sustentáveis de
manejo do solo e de outras atividades. Antes de discorrer mais sobre a incrível
sensação de passar uma tarde em uma área de pouco mais de 200 há, onde tudo lá produzido,
bem como os recursos arrecadados, ambos são investidos e compartilhados coletivamente,
farei um breve resumo sobre a trajetória da COPAVI.
Foto - Jairo |
Em
1993 um grupo de famílias se instala em uma área de terra antes cultivada por
cana e abandonada em decorrência de falência da empresa. Entre 1986 e 1988 deu inicio ao processo de
desapropriação, cujo argumento foi abandono e improdutividade da área. A ideia
do MST era avançar pela reforma agrária na região, sendo o assentamento Santa
Rita, a primeira experiência coletiva do estado, com 22 famílias assentadas
fixadas em 236 ha de terra, 100% com práticas agroecológicas anos mais tarde ao
assentamento. Em 2002 o assentamento Santa Rita avançou junto a ECOVIDA
iniciando os trâmites legais para certificação orgânica. Em 2005 foi aprovado
como grupo COPAVI, oficialmente passando a integrar a Rede ECOVIDA, que se deu
no encontro ampliado em Praia Grande/SC, nesse mesmo ano.
Foto - Jairo |
De acordo com o estatuto da mesma, para ingressar na cooperativa é exigido que o candidato comprove aptidões para contribuir no projeto agrário coletivo, onde terá quatro meses de estágio probatório. Após o estágio será avaliado por meio de assembléia com a participação dos associados. Seguindo a filosofia do movimento agrário revolucionário, a COPAVI é território de resistência, pois a luta não se cessou na conquista da terra, mas se renova a cada desistência, permanência ou nova adesão de membros.
Foto - Jairo |
Junto
a sede administrativa da COPAVI, que também concentram outros equipamentos,
como o refeitório coletivo, padaria, área comercial e o espaço memória, o grupo
foi agraciado assistindo palestra proferia por uma tecnóloga em agroecologia,
que explicou meticulosamente os obstáculos trilhados pela cooperativa nos
trinta anos de existência. Disse que a entidade se caracteriza pela
diversidade, produzindo cana de açúcar orgânico e derivado, horticultura,
padaria e pecuária leiteira.
Foto - Jairo |
Foto - Jairo |
Dessas atividades o que mais gerou dificuldades no início foi à pecuária leiteira, que exigiu parcerias com universidades e centros de estudos na qualificação de profissionais com olhar agroecológico. Disse que por pouco o setor agropecuário não foi desativado devido às dificuldades de manejo sustentável. Custear o manejo sustentável de vacas para a produção leiteira se tornava impraticável, pois os silos para alimentar os animais tinham de ser de soja e milho orgânicos.
Foto - Jairo |
Outro problema corriqueiro era a elevada mortalidade de bezerros, bem como a grande incidência de carrapatos nos animais adultos. A solução veio através da capacitação profissional, bem como mudanças de estruturas do sistema de manejo dos animais. Em vez de comprar suplementos alimentares, com valores elevados, a solução foi investir no manejo das pastagens, onde o gado permanece maior parte do tempo. O plantio de pastagens e espécies florestais, margaridão, capim copiaçu e leucenas, de porte alto, entre outras variedades vegetais, somado ao manejo eficiente dos bezerros, fez diminuir a mortandade de animais e a incidência de carrapatos, elevando gradativamente a produção de leite.
Foto - Jairo |
Após visitar a área destinada ao gado leiteiro, o grupo foi conhecer o espaço destinado à horticultura. Lá foram recepcionados por duas tecnólogas onde explanaram como funciona o sistema de cultivo orgânico de hortaliças e demais legumes. Disseram que muito do que é cultivado, de forma diversificada, é para alimentar as famílias da COPAVI e também para atender o programa do PNAE, PAA, bem como para doações. Durante a pandemia do COVID foram doadas oito toneladas de alimentos, cem litros de álcool 70%.
Foto - Jairo |
Todo o processo ou manejo da horta segue a risca critérios pré estabelecidos de tal forma que possa obter bons resultados. O que chamou atenção em relação à cooperativa é que todas as famílias participam de uma forma ou de outra de todas as atividades produtivas, em forma de rodízios. Quem se adaptar melhor em um desses segmentos poderá continuar atuando, porém, o estatuto da COPAVI exige que todos os cooperados experimentem todas as funções, da administração ao trabalho de campo.
Foto - Jairo |
Foto - Jairo |
A última etapa de visitação da COPAVI foi o segmento de cana de açúcar onde são beneficiados alguns derivados da cana como melado, açúcar mascavo e cachaça, considerada o produto que agrega maior renda da cooperativa. Todo o cultivo da cana segue regras agroecológicas, sendo cinco variedades cultivadas. O manejo do canavial se dá de modo consorciado, permitindo que entre o carreiro e outro seja cultivado outras plantas. O fato é que a cooperativa tem disponível cana para a moagem durante todo o ano. O processo produtivo da cana e da produção de cachaça, ambos seguem critérios técnicos rígidos, cujo propósito é obter uma aguardente de excelente qualidade.
Foto - Jairo |
Foto - Jairo |
Foto - Jairo |
Minha e talvez a percepção de muitos do grupo que visitaram a COPAVI é de que o sistema lá implantado não é o mais perfeito ou desejado, mas o possível de ser implementado. Lendo alguns trabalhos, pesquisas, sobre a cooperativa, a conclusão que se chegou foi de que a proposta lá adotada segue princípios socialistas, tanto na construção de conceitos novos de organização, decisões horizontalizadas e trabalho solidário, no qual rompe certos paradigmas como poder hierarquizado, espaço individualizado e ideia de lucro.
Ficou explícito também o fato de o grande capital e seus tentáculos de poder, por exemplo, a mídia, atuarem tanto na tentativa de criminalizar determinadas organizações como o MST, que tem a sua gênese fincada na luta pela Reforma Agrária. É notório afirmar que o único caminho para solucionar a fome de milhões de pessoas no planeta é por meio da agricultura familiar e não a agricultura convencional que vem destruindo biomas, matando rios e contaminando solos. A agroecologia, por exemplo, é a que pode reconectar os sujeitos com sua essência geradora, o cosmos, ou força divina, para os metafísicos. Conhecendo a cooperativa COPAVI, lá pode ser visto e sentindo um pouquinho dos princípios que podem salvar a espécie humana no planeta terra, a valorização da diversidade, as decisões horizontalizadas e a solidariedade.
Algo de extraordinária representação simbólica para o fortalecimento e continuidade do projeto revolucionário da COPAVI, que serve de inspiração para outros movimentos, é o seu centro de memória, uma pequena sala bem na entrada da sede administrativa. No seu interior estão nas paredes as fotos das principais lideranças que passaram pela cooperativa, porem já faleceram. Além das fotos, existe um rico acevo documental contanto um pouco da história do movimento que resultou na COPAVI. A presença de um busto do educador Paulo Freire, deve ser considerado como sendo a educação, o instrumento da transformação, da superação da desigualdade e da humanização dos sujeitos.
Prof. Jairo Cesa
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/3580/1893.pdf?sequence=1
https://www.youtube.com/watch?v=iLHkzY_n56s
http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2015/anais/thalles_santos_simoes_1.pdf
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