Saudades
da Amoreira da Minha Escola
Hó Amoreira amada tantas saudades já deixastes.
Ainda com frutos, partistes muito jovem, quanta alegria proporcionastes à
criançada. Um imenso vazio paira no portão onde fincavas tuas raízes de teu
tronco sublime. Todos os dias, meses e anos, você lá estava, seguindo seu ciclo
ininterrupto. No inverno embernavas num sono profundo. Tuas folhas te desfazias
totalmente, restando apenas galhos descobertos à espera de mais uma primavera.
Agosto se aproximava prenúncio de mais uma estação. Sim, é a primavera dando os
primeiros sinais. Pequenas e delicadas flores brancas se despontavam transformando
em suculentas frutinhas roxas. A criançada, insetos e passarinhos ficavam maravilhados, era só diversão,
sem contar os adultos que quando por ali transitavam, tiravam um tempinho,
pouco é claro, mas suficiente para colher algumas “pretinhas” e empurrá-las na
boca.
Amoreira amada, quisestes crescer como é
natural entre as espécies do reino vegetal, sem se dar conta que sobre seu
cume uma rede elétrica resultaria no
motivo da sua morte. Não que a fiação tenha cedido e lhe vitimado. Não! A causa
foi outra! Sua brutal morte se deu pela fúria humana, que a sentenciou pelo
simples fato de ter os seus galhos, repletos de frutos, provocado colapso na
rede elétrica. A culpa do transtorno, todos sabemos, não foi sua, amoreira amada!
Sua natureza é crescer, florescer, gerar frutos, sombra entre outros tantos
benefícios!
E a culpa? Quem seria (am)
responsabilizado (os) por tamanha brutalidade a um corpo indefeso que ali
estava proporcionando alegria para tanta gente? O culpado seria a máquina que em
poucos segundos pôs no chão uma vida ou milhares de vidinhas que quando ingeridas
pelo organismo humano transformaria em propriedades terapêuticas para tenros corpos
infantis? Não!! A culpa não foi da máquina! A culpa, sim, foi de quem a controlava!
Alguém certamente embebecido de cólera, ódio, cujo prazer foi vê-la tombar espalhando
suas folhas e frutos por todos os cantos. Seus galhos, com folhas agora
murchas, frutinhas ainda verdes, sem vida, continuam lá jogadas no canto frio e
úmido do muro.
O que restou, além do cenário triste e
vazio onde estava a amoreira, a indignação contra quem cometeu tal brutalidade.
Deixa claro que quem autorizou ou execução tal ordem não teve a mínima
sensibilidade de perceber que um simples manejo na rede elétrica, o problema seria
sanado sem o sacrifício da amoreira. Não! Nada disso! A “maldita amoreira”, que
tanto sujava o pátio, os carros, com suas folhas e frutos, teria que pagar
pelos crimes cometidos! Porém, faltava
algo que justificasse sua eliminação,
sem gerar constrangimentos e punições aos executores. Acabou o ciclo de
uma vida, tudo se silenciou nessa triste quinta feira 02 de outubro. Mas ficara
a certeza que tu amoreira, continuarás sempre viva no imaginário de quem muito
a amou, que embora não mais floresça e produza frutos, contribuíste para
alegrar e adoçar a vida de muitos que por aqui passaram e certamente carregam
dentro de si um pouco da sua essência diluída, transformada em energia, fonte
vital da existência.
Prof. Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário