Algumas reflexões sobre os impactos da
proliferação das espécies invasoras - pinus e casuarinas no Balneário Morro dos
Conventos
Analisando
imagens obtidas do balneário Morro dos Conventos no final da década de 1950, há
a nítida constatação de que o vasto espaço que se estende da falésia à orla
tinha como vegetação predominante espécies gramíneas ou arbustivas fixadoras
das dunas. Durante as décadas
posteriores, influenciado pelo aumento do fluxo populacional e ocupação
imobiliária, variedades exóticas da flora como a espécie equisetifolia
casuarina e pinus passaram a ser introduzidas no balneário. Sua disseminação em
toda vasta orla foi acelerada, pois não encontrou dificuldade de adaptabilidade
diante de um solo de elevada acidez e baixa fertilidade. Atualmente em toda
extensão do balneário é possível visualizar a presença dessas variedades
exóticas, que de acordo com a ONG The Nature
conservancy, define a espécie pinus como uma das mais problemáticas entre as
demais invasoras conhecidas.
A
presença da variedade pinus no planeta terra data da era paleozoica, ou seja,
por vota de 200 a 400 milhões de anos, que teve como habitat ideal para sua
proliferação as terras áridas, extremamente frias, de acidez elevada e baixa
fertilidade do hemisfério norte com destaque a América do Norte, Europa e Ásia.
Rapidamente algumas variedades de pinus como o ssp cruzou a linha do equador
invadindo o continente Africano, Oceania e a América do Sul. Somente na África
do Sul a variedade pinus foi responsável pela redução da biodiversidade
provocando a extinção de aproximadamente 750 espécies. Na Argentina os pinus
reduziram a diversidade de plantas nativas na região dos pampas e áreas
protegidas.
No
Brasil, os primeiros exemplares de pinus datam do final do século XIX trazidos
pelos imigrantes europeus e que foram plantados para fins ornamentais. Os
primeiros experimentos para fins comerciais somente se deu na década de 1950 no
município de Rio Negrinho, Santa Catarina. Foi, portanto, em 1966, através da
promulgação da lei n. 5.106 que tais variedades exóticas passaram a ser
cultivadas de forma extensiva em todo território nacional visando não só suprir
a indústria de papel celulose, com sementes e tecnologias importadas dos
Estados Unidos e Canadá, como também abastecer o marcado madeireiro em franca
expansão.
Ao
mesmo tempo em que o setor papeleiro e setores da indústria madeireira foram
beneficiados com a aprovação de leis e
incentivos fiscais e que abriu caminho para introdução de outras variedades de
pinus, a mesma disposição não foi atribuída ao quesito fiscalização e controle
da sua disseminação para ecossistemas complexos e frágeis como as dunas e
restingas do Balneário Morro dos Conventos. Há inúmeros estudos e pesquisas que
comprovam que as casuarinas e as demais variedades de Pinus como os ssp e
elliottiis atuam com maior voracidade em ambientes em franco processo de
impactação ambiental.
A
introdução de espécies exóticas em ambientes naturais como a das casuarinas e
pinus interfere diretamente na estrutura organizacional das espécies nativas,
através da alteração da dinâmica genética. Há informações que comprovam que na
hipótese de ocorrer uma contaminação química seus efeitos podem ser dissipados
com o tempo, já a contaminação biológica seus efeitos são duradouros ou
permanentes com danos irreversíveis. Outro aspecto que intrigou os estudiosos
da espécie Pinus Elliotiis, foi em relação a sua fácil adaptabilidade em
regiões de climas sub-tropicais com temperaturas mais amenas em comparação a
dos países de origem. A surpresa foi maior quando se constatou que o ciclo de
germinação dessas sementes não seguia o mesmo procedimento das do hemisfério norte,
ou seja, a necessidade de temperaturas baixas para a quebra da dormência.
A
compreensão sistemática da dinâmica das espécies casuarina e pinus e seus
efeitos devastadores aos ecossistemas costeiros resultou na mobilização da
sociedade da grande Florianópolis na promoção de uma intensa campanha visando a
supressão e substituição dessas espécies no interior dos parques como do Rio
Vermelho por variedades endêmicas do lugar. Embora o código florestal vigente
permita o cultivo intercalado de
espécies nativas com exóticas, o município de Florianópolis, em 2012, o poder
legislativo aprovou legislação de n. 9097/12 determinando a erradicação de
pinus, eucalyptus e casuarinas em toda extensão do município num prazo de dez
anos a começar na data da sua aprovação. http://www.institutohorus.org.br/download/marcos_legais/Lei_PMF_9097.pdf
A
Fatma (Fundação de Amparo e Tecnologia e Meio Ambiente de Santa Catarina)
também iniciará processo de supressão das espécies invasivas nos dez parques no
qual coordenada no Estado. É com base nas iniciativas do legislativo de
Florianópolis e do órgão ambiental estadual que no município de Araranguá o
tema espécies exóticas da flora e fauna deverá ocupar espaços maiores de
discussão nas instâncias dos poderes constituídos e na própria sociedade. A
ideia é deixar de lado todas as emoções que dominam o indivíduo quando se
discute o controle de espécies invasoras, pois muitas dessas espécies como as
casuarinas, pínus, eucalyptus, entre outras, já convivem conosco há muito
tempo. O que todos devem saber é que embora pensemos que tais espécies são
consideradas inofensivas, que produzem sombras, que nenhum mal resultam ao
ambiente, estamos enganados, as casuarinas e demais pinus que vem dominando dia
após dia o cenário das nossas fachas de praias e morros da cidade, geram
impactos sem precedente à fauna e flora nativa.
Sua
supressão e substituição por variedades endêmicas no Balneário Morro dos
Conventos exigirão do poder público, órgão ambiental municipal e demais
entidades a elaboração de um consistente plano de metas, que deverá partir
inicialmente de um exaustivo processo de educação ambiental na comunidade. A
compreensão da complexidade da flora original, as inúmeras variedades antes
existentes e quais as que ainda persistem farão parte das etapas subsequentes.
No
entanto, é importante ressaltar que dado a esse extenso e difícil desafio, a
inclusão de toda vasta área do entorno da falésia em uma unidade de
conservação, resultará em ganhos inquestionáveis para toda sociedade,
especialmente para o extraordinário e complexo mosaico ecossistêmico hoje
intensamente ameaçado.
Prof. Jairo Cezar
O problema são os custos e a continuidade de um programa por 10 anos.
ResponderExcluirDiante dos impactos já estudados é evidente que a melhor solução seria a erradicação. Mas, diante das dificuldades desta empreitada não haveriam outras soluções?
O problema são os custos e a continuidade de um programa por 10 anos.
ResponderExcluirDiante dos impactos já estudados é evidente que a melhor solução seria a erradicação. Mas, diante das dificuldades desta empreitada não haveriam outras soluções?
"Todos a una como en Fuente ovejuna, Calderon de la Barca de todo ouvido fico com Ramaiena; não havería outra solução?, agora nem pitos nem flautas, em todo caso destruir e mais facil, os que fiarem me expliquem quando chegar a data (o que temos é de 2015 falta pouco); temos informação das doenças dos pinhos na Regiâo?
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