A SOJA TOMA CONTA DO SUL DE SANTA
CATARINA
Entre
as décadas de 1970 e 1980 quem transitava pelas estradas do interior de Araranguá
deve lembrar-se do colorido da diversidade de culturas agrícolas que tomavam as
terras dos vales férteis. Feijão, milho, batata doce, amendoim, fumo, cana,
aipim, mandioca, arroz, cebola, além de hortaliças e plantas frutíferas em
geral, garantiam ao pequeno agricultor sustento e renda extra nas vendas aos
armazéns e pequenos supermercados do município.
Com
o tempo, com a revolução agrícola, o pequeno agricultor teve que deixar de
cultivar, deixar o campo, vendendo ou entregando suas terras aos bancos para o
pagamento de dívidas contraídas de financiamentos. O caminho para não morrer de
fome e sustentar a família foi botar tudo em um caminhão e tentar a vida na
cidade, juntando-se aos demais moradores nos bairros que crescem
vertiginosamente, bem como os problemas.
Rapidamente
o interior de Araranguá foi mudando sua geografia, florestas e pequenos morros
foram suprimidos cedendo lugar a um vasto deserto verde de arroz irrigado, era
o pró várzea que viria mudar a configuração do modelo agrícola que predominaria
nas décadas seguintes. As centenas de trabalhadores necessárias durante as
safras anuais foram substituídas por potentes máquinas: tratores, plantadeiras,
colhetadeiras, etc.
As
enxadas, as foices, as pás, os arados e as capinadeiras de tração animal,
equipamentos esses imprescindíveis nas décadas passadas passaram a ter um
concorrente poderoso, os venenos/agrotóxicos, de todos os tipos e graus de
contaminação. Tudo isso é resultado da revolução verde ocorrida após a segunda
guerra mundial que transformou tanques e venenos em equimamentos e insumos
agrícolas. Foram os países periféricos os laboratórios dessa revolução levando
a estagnação de milhões de pequenos agricultores.
A
diversidade de culturas que sempre dominou os campos no passado tem hoje tomado
por duas ou três cultivares: a soja, o milho e a cana de acurar. São essas e
outras culturas de menor impacto que tomam anualmente do governo federal,
fabulosas somas de recursos do Plano Safra. Acredite, tanto a soja quanto ao
milho, que lideram as áreas de cultivo são as principais commodities de
exportação, das quais são transformadas em ração para alimentar as vacas,
porcos, frangos na China, União Europeia e ouras nacionalidades.
Outro
aspecto surpreendente na região sul de Santa Catarina é o crescimento da
cultura da soja em terras antes tomadas pela atividade da mandioca, do feijão,
até mesmo do arroz. Claro que tudo isso tem relação com as políticas agrícolas
implementadas pelos governos de plantão. Claro que junto com a soja vem as
doenças até então desconhecidas e que começam a afetar culturas tradicionais,
bem como a fruticultura local.
Tanto
a soja quanto o arroz que hoje lideram o cenário agrícola regional utilizam
anualmente toneladas de agrotóxicos no combate de plantas “indesejadas”,
fungos, insetos, etc. Se levarmos ao laboratório os alimentos que a população
consome diariamente, principalmente hortaliças e frutas, é quase certo que
serão detectadas a presença de partículas de agrotóxicos e outros metais
pesados em índices bem elevados do permitido. Também a água que a população
consome tem presença de partículas de agrotóxicos em grau assustadoramente
superior ao recomendado pelas agências de saúde.
A
presença da suja no litoral de santa Catarina é um sinal de alerta para os
ecossistemas da mata atlântica. Se as expectativas se confirmarem do aumento de
85% da área cultiva no Brasil nos próximos vinte anos, ou seja, de 43,8 milhões
de hectares hoje para 55,8, extensas áreas de florestas da mata atlântica
poderão ser suprimidas a exemplo do que está ocorrendo no bioma do Serrado.
Junto com a soja e outras culturas novas vêm também outros problemas, doenças,
como fungos, insetos, até então desconhecidos.
Um
exemplo foi o que ocorreu com a pitaya no sul de Santa Catarina, safra
2022/2023. Um inseto conhecido como TRIPS atacou as casas dos frutos afetando a
qualidade estética. Toneladas tiveram que ser descartadas ou vendidas a um
preço muito baixo. De acordo com observações feitas pelos órgãos de inspeção
estadual da agricultura do estado, há fortes indícios que esse inseto tenha
sido trazido pela soja e se espalhado pela região.
Prof.
Jairo Cesa
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