Plano
Nacional de Educação: metas e estratégias segundo a lógica privatizante
neoliberal
Como
no último texto publicado no blog o objeto pretendido foi abordar a indiferença
dos pais, mães e responsáveis acerca da paralisação do magistério que se
arrastou por 72 dias, o assunto agora trata dos Planos federal, estaduais e
municipais de educação, cuja aprovação na ALESC (Assembleia Legislativa de
Santa Catarina) ocorreu na primeira quinzena do mês de junho de 2015. A
reflexão que se faz agora é saber se todos/as os/as professores/as de ambas as
redes públicas de ensino têm realmente compreensão objetiva dos itens
discutidos e aprovados e de que modo afetará ou não a vida profissional e o
futuro da educação. Se fosse realizar uma enquete para saber quem leu o
documento o resultado certamente seria o mínimo, excetuando, quem sabe, os
técnicos da SED (Secretaria de Educação), das GEREDS (Gerências Regionais de
Educação) e integrantes da executiva do SINTE (Sindicato dos Trabalhadores em
Educação).
Afinal
o que representa esses planos para o futuro da educação e a carreira docente? No
Brasil, todos os planos sancionados pelos governos para educação pública,
teoricamente, sempre propuseram a total erradicação do analfabetismo e a elevação
do Brasil a condição de primeiro mundo. No começo de 2015, a presidente da
república foi mais audaz quando estabeleceu como meta de seu governo à
educação, a tal ponto que o lema de governo é Brasil, Pátria Educadora. Um mês
depois de assumir a presidência sua primeira ação foi promover o corte de nove
bilhões de reais do orçamento para educação.
Quanto
aos documentos agora aprovados nas três instâncias federativas, os mesmos mantêm
princípios filosóficos e políticos semelhantes, porém, o aspecto merecedor de
ressalva, isso teoricamente, é quanto ao financiamento, que obriga o governo,
nos próximos dez anos de vigência do plano, em disponibilizar 10% dos royalties
do pré-sal para a educação. No entanto, o plano prevê a destinação de 7% até
2021. É uma decisão um tanto contraditória quando se sabe que no começo de 2015
o governo federal, seguindo a política de ajustes econômicos, promoveu corte
expressivo de recursos para o financiamento da educação.
Deve
ser de conhecimento da sociedade que os respectivos planos educacionais foram elaborados
em cumprimento de dispositivos da LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação),
Lei n. 9394/96 tendo como metas e estratégias ajustar a educação brasileira à
realidade conjuntural global. Contudo, o que mais se observou nos quase dez
anos de tramitação do plano nacional de educação foi a incipiente participação
efetiva dos trabalhadores/as em educação na sua construção das propostas desde
o início. Nas várias tramitações ocorridas nas duas casas legislativas
federais, o mesmo sofreu modificações significativas dando assim um caráter que
agradou muito as corporações ligadas à educação. O plano deixa transparecer nas páginas do
documento que tratará a educação pública como produto na qual seguirá as regras
clássicas do mercado, baseada na lei da oferta e da procura.
Além
do mais os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) aprovados não serão exclusividade
para o seguimento educacional público, ofertando também o montante adicional
para atender as instituições e corporações nacionais e internacionais de ensino
profissionalizante e superior que ofertarão vagas a estudantes mediante
recursos financiados pelo FIÉS (Fundo de Investimento do Ensino Superior), PROUNI
(Programa Universidade para Todos), PRONATEC (Programa Nacional de
Financiamento de Ensino Técnico). Em Santa Catarina, na discussão dos planos
municipais e estadual de educação o processo ocorreu seguindo a linha nacional,
sendo monitoradas por integrantes de ambas as secretarias e com forte restrição
da participação dos trabalhadores em educação e do público em geral. Nos
encontros regionais para discutir o plano estadual, os locais geralmente escolhidos
dificultavam em muito o acesso do público interessado, limitando a participação
quase que exclusiva de representantes da própria Gerência Regional de Educação ou
professores que estavam disponíveis no dia do encontro.
O
próprio sindicato que representa a categoria, SINTE Regional de Araranguá, não
teve qualquer participação dos encontros. Não se soube quais as diretrizes
aprovadas na regional de Araranguá, muito menos as propostas elencadas no
encontro estadual, realizado na UFSC, Florianópolis, para subsidiar a proposta
do PNE federal. Como o prazo da conclusão das etapas do plano se esgotaria em
junho último, a pressa agora era providenciar os últimos ajustes para encaminhar
à assembléia legislativa e câmaras municipais para sua aprovação. Não há
qualquer notícia de ter havido pedido de supressão ou alteração de itens do
plano por parte dos legisladores. Tudo ocorreu na absoluta tranqüilidade,
transparecendo ao olhar de todos que o plano não se contrapõe aos interesses do
mercado.
O
que deveria ter ocorrido e não se concretizou, em relação ao plano, era a promoção
de audiências públicas municipais para a socialização das propostas elencadas
nas três instâncias federativas. Em relação ao plano municipal de Araranguá, o
próprio SINTE solicitou a administração pública que fosse proferida audiência
pública antes da sua aprovação na câmara legislativa. Nada disso ocorreu. A
única manifestação da administração foi o envio de nota ao Sinte informando que
propostas ou sugestões de emendas ao Plano
poderiam ser encaminhadas via internet.
Em âmbito
estadual com a aprovação da lei 227/2015 na ALESC que trata sobre o plano
estadual de educação, nas 37 páginas do documento grande parte das propostas
previstas dificilmente serão concretizadas, pois não condiz com a filosofia
adotada pelos atuais governos de disponibilizar vultosos recursos no
aprimoramento infraestrutural, pedagógico e profissional do seguimento público
de ensino. O exemplo é o que se vê na
saúde e segurança pública. Relembrando a trajetória histórica das
administrações do estado das últimas três décadas, nenhum governo ousou em
implementar políticas que proporcionasse rupturas profundas no processo
educacional. Haja vista ter tido épocas cujo cenário econômico federal e
estadual era mais favorável que o atual permitindo maiores investimentos em
educação.
A
expectativa tanto dos gestores estaduais e municipais é de que as proposições
elencadas nos planos poderão ser viabilizadas a partir da disponibilidade dos
recursos oriundos do Pré-sal, como está definido em lei federal. Não há
qualquer certeza de que os recursos serão disponibilizados, pelo fato da queda
do preço do barril. Nos dez anos previstos para a execução do plano, serão
necessários investimentos na ordem de bilhões de reais. Com a crise que vem se
abatendo na economia nacional e com previsões nada otimistas para os próximos
anos, tudo indica que os planos aprovados não terão impacto algum na estrutura
educacional brasileira.
Prof.
Jairo Cezar
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