O movimento sindical no Brasil e a
fundação do Sinte (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Estadual de
Ensino)
O sindicalismo no Brasil tem sua origem
nas primeiras décadas do século XX, a partir do advento da industrialização e
por conseqüência a expansão da classe operária. Motivado pela precarização das
condições de trabalho e pelos baixos salários recebidos, os trabalhadores, mesmo
em caráter incipiente, passam a se organizar em associações ou sindicatos na qual
multiplicam forças em defesa da categoria que representam. Esses movimentos das
classes trabalhadoras, embora ainda isolados no Brasil, foram inspirados nas mobilizações operárias e camponesas na Europa
e principalmente na Rússia de 1917, quando o regime capitalista sofreu sua primeira
derrota histórica com o advento do
socialismo.
Ressentido-se de uma possível
ameaça socialista, não somente na Europa como no Brasil de 1922, o Partido Comunista,
inspirado nos princípios do Marxismo, assumiu uma postura de respeito frente às
lutas dos trabalhadores. Com a ascensão de Getúlio Vargas no poder, em 1930,
sua administração foi marcada por um rígido controle dos sindicatos através da cooptação
das lideranças dos mesmos, garantindo-lhes alguns privilégios.
Foi diante dessa nova conjuntura socioeconômica
centrada na acumulação ilimitada e irracional de riquezas e por conseqüência na
exploração da força de trabalho, que resultou no surgimento dos sindicatos. O
movimento sindical teve origem nas próprias fábricas ou em outros espaços de
trabalho, portanto, é uma criação dos trabalhadores visando sua própria
segurança, o combate a usurpação incessante do capitalista, a defesa de um
salário digno e por uma jornada de trabalho menos extenuante.
Entre os anos de 1945 a 1964, os
trabalhadores criaram a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGT),
cuja filosofia da entidade estava pautava sob a égide comunista. Com a
instituição do regime militar em 1964, o movimento trabalhista no Brasil sofreu
um forte impacto com a extinção das organizações sindicais e com a repressão e
perseguição de suas lideranças, muitas das quais presas, torturadas e mortas.
Esse processo repressivo no Brasil
se manteve até o começo dos anos 1980, quando foi decretada anistia política,
permitindo que lideranças que se opunham ao regime militar, retornassem,
reiniciando desse modo o debate sobre a construção de um novo sindicalismo. Foi, portanto, na região do grande ABC
paulista o epicentro das greves envolvendo metalúrgicos das empresas
automobilísticas que resultou na criação da Central Única dos Trabalhadores, entidade
que se tornaria a partir da década 1980, como principal organização dos
trabalhadores contra a exploração capitalista.
No seu estatuto de fundação, a CUT,
como entidade dos trabalhadores, havia dispositivos no documento que expressava
profundas críticas ao modelo de produção em vigor, admitindo, que para reverter
as condições de exploração e alienação na qual os trabalhadores estão
submetidos, um novo projeto de sociedade deveria ser pensado, tendo por opção o
socialismo como proposta alternativa.
O começo da década de 1990
representou para os trabalhadores o período de forte ataque neoliberal aos direitos conquistados. Com a abertura
econômica sem limites às empresas transnacionais, o capital, para expandir suas
fronteiras de domínio, teve como aliado o próprio Estado, que se transforma em
protagonista das reformas estruturais impostas pelas instituições financeiras
internacionais, conhecidas na época por Consenso de Washington. As transformações econômicas que se sucederam
em âmbito global, associada aos avanços no campo tecnológico, resultaram em
reformas no campo educacional, adequando o sistema ensino ao novo paradigma exigido
pelo marcado global.
Em Santa Catarina, embora o
magistério público tenha lançado os primeiros passos para sua consolidação na
primeira metade do século XIX, foi somente no final da década de 1960, ou seja,
em 08 de maio de 1966, que o magistério catarinense criaria sua associação, ALISC
(Associação dos Licenciados em Santa Catarina) não como sindicato, mas como
entidade com pouca expressividade, que limitava a participação apenas de
professores (as) efetivos (as). Nesse
mesmo período, na região de Araranguá alguns professores se organizam e fundam
a APROVA (Associação dos Professores do Vale do Araranguá). No entanto, foi na
década de 1980, com o fim da ditadura que a categoria do magistério catarinense
adquiriu maior visibilidade e respeitabilidade por parte da sociedade, quando participou,
no governo de Jorge Bornhausen, da sua primeira greve com duração de 12 dias.
Diante da necessidade de
profissionalizar a educação pública catarinense, em 1983, a ALISC, promoveu
nova greve cuja finalidade foi pressionar o governo pela elaboração do Plano Estadual de Educação.
Nesse momento a Associação dos professores de Santa Catarinense lançou campanha
estadual em prol do respectivo plano no qual reuniu mais de um milhão de assinaturas.
O SINTE, já como entidade dos (as)
trabalhadores (as) em educação se transforma em espaço de luta e enfrentamento
contra os governos que se sucedem, cujas políticas pensadas para a educação não
contemplavam as aspirações da categoria.
Com a criação do SINTE em 1988 os
(as) trabalhadores (as) em educação participaram na gestão Pedro Ivo Campos de
uma greve que teve a duração de 57 dias. A paralisação do magistério nesse momento
teve como causas: a extinção dos Conselhos Deliberativos Escolares; proibição
de eleições para diretores; não pagamento dos gatilhos e a demissão de 20 mil
funcionários. Questões complexas como estas e outras que estariam por vir, seriam
os desafios que o Sinte teria que enfrentar na sua trajetória história.
Se o governo de Pedro Ivo Campos deixou
uma péssima impressão para a categoria, na gestão de Casildo Maldaner não foi
diferente, um novo enfrentamento se sucedeu, tão violente como no governo
anterior, pois agiu com severidade empregando ações repressivas contra os
grevistas. A greve desencadeada no seu governo tinha como uma das bandeiras o
reajuste dos salários, cuja justificativa para a não concessão, segundo o
governo, era a escassez de recursos disponíveis. No entanto, o que gerou maior
revolta da categoria foi quando se teve notícias que o mesmo tinha reajustado dos salários dos cargos
comissionados em 90%, e 21% para o judiciário.
O governo de Wilson Kleinobing,
também amargou uma paralisação de 64 dias, cujo movimento foi fortalecido com a
adesão dos trabalhadores da UFSC, UDESC e dos educadores das escolas públicas
municipais de Florianópolis. A valorização do serviço público, a qualidade do
ensino e a melhoria do material didático das escolas tornaram-se bandeiras de
luta da categoria. A atitude do
governador Kleinobing de acabar com as eleições para diretores das escolas,
revogando a lei 8.040 de 1990, foi recebida pelos (as) educadores (as) como ato
autoritário, deixando claro que a gestão da escola continuaria sendo ocupada
por apadrinhados políticos, indicados por partidos ou vereadores, muitos dos
quais sem nenhum conhecimento sobre educação. Diante disso, o SINTE realizou
campanha para eleições de diretores e encaminhou à Assembléia Legislativa
projeto com apoio de trinta mil assinaturas visando garantir o cumprimento da
lei.
Em 1995, no governo de Paulo Afonso
Vieira, o SINTE encerrou seu ciclo de greves. Quando assumiu o governo, Paulo
Afonso prometeu em palanque que a prioridade das prioridades seria a educação.
Assumindo o governo, o resultado foi o desencadeamento de uma greve de 59 dias
gerando profundo desgaste político no PMDB, que proporcionou a vitória de
Espiridião Amin Filho, do PP. Repetindo as gestões anteriores, o governo de
Esperidião não foi flexível com o magistério e, mais uma vez, em 2000, uma nova
paralisação de 66 dias ocorreu.
A história e as políticas
defendidas pelo SINTE não podem ser compreendidas sem uma análise objetiva da
constituição e trajetória da principal central sindical do Brasil na qual o sindicato
dos trabalhadores da rede pública de Santa Catarina está inserido. Quando a CUT
foi criada, em 1980, sua filosofia estava embasada numa central independente,
não corporativa, que defendia a combatividade e o enfrentamento dos patrões
contra a exploração dos trabalhadores. Além do mais, A CUT lançava campanha
nacional pelo não pagamento da Dívida Externa.
Sendo assim, se firmava como entidade referência na construção de uma proposta alternativa de
sociedade apontando o socialismo como projeto de superação das desigualdades e
também na negação da dependência ideológica e organizativa do governo e da
burguesia.
A década de 1990 se notabilizou
como período das grandes reformas estruturais de base neoliberal com reflexos
profundos na estrutura organizacional dos trabalhadores. A postura da CUT
diante da investida do capital na destruição dos direitos adquiridos da classe
trabalhadora refletiu no que foi
aprovado no congresso da entidade em 1988, perdendo sua característica original
como organização de massa e combativa para uma entidade de cunho burocrático,
defendendo o pacto governamental e a negociação com a classe empresarial.
Em 1995, a CUT lançou manifesto em
defesa da educação pública brasileira, porém no documento deixou transparecer
uma postura um tanto quanto conservadora concordando até que as redes privadas
de ensino mantenham-se integrandos ao sistema nacional de educação, dando
condições às mesmas para que fossem também contempladas com recursos públicos. Essa
possibilidade de integração entre ambas as redes de ensino, em hipótese alguma,
era cogitada pela entidade quando da sua criação. Além do mais, o manifesto não
faz menção e nem denuncia as práticas mercantilistas da rede privada como
também abandona sua luta contra a política econômica dos governos neoliberais.
O começo do segundo milênio foi
marcado pela vitória das forças populares que levou à presidência do Brasil, o
ex-metalúrgico, sindicalista e fundador da CUT, Luis Inácio da Silva. Com Lula
no governo, a CUT, como apêndice do Estado atrelado às massas trabalhadoras, garantiu
por certo momento, a segurança de que a burguesia estava precisando para ganhar
fôlego na luta realizada diariamente contra os trabalhadores. Alguns setores
mais críticos ligados à a central sindical romperam com a mesma e, em 30 de
janeiro de 2005, na realização do Fórum Social Mundial em Porto Alegre,
fundaram a CONLUTAS.
No VI congresso do SINTE, estava em
discussão à permanência ou não do SINTE à CUT. Dentre as teses apresentadas,
75% delas defenderam a continuidade da categoria atrelada à CUT,
responsabilizando a direção da CUT por estar na contramão da luta pelos
direitos dos trabalhadores. Em 2005, no VIII Congresso Estadual do SINTE
realizado no município de Araranguá, por três votos de diferença, 210 a 207, o
sindicato permaneceu filiado a Central. Porém deixou explícita sua postura de
proximidade com o Estado compactuando com as políticas reformistas como a
sindical e trabalhista.
Durante sua trajetória histórica, a
CUT, que na sua origem, apresentou uma proposta de formação sindical com uma
perspectiva marxista sobre a sociedade capitalista, foi se modificando perdendo
tal característica até definir posição de adaptação às regras impostas pelo
capital, como também, mais recentemente, a inserção dos trabalhadores no
mercado de trabalho – com a criação da escola-sul, cuja finalidade é a
adequação à ordem capitalista.
Prof. Jairo Cezar
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