O
Drama do Ensino Público Brasileiro
A
crença de que com a virada do terceiro milênio o Brasil romperia com sua
histórica desigualdade social, continua sendo um sonho ainda distante. Com base
em experiências vividas pelos países mais desenvolvidos, a supressão das
desigualdades tornou-se real quando seus governantes passaram a investir
enormes parcelas do PIB (Produto Interno Bruto) na educação básica e no ensino
superior. Não os míseros 5,8% investidos pelo Governo brasileiro em 2010. O
pior de tudo é que esse percentual, mesmo minguado, tem a sua aplicabilidade
questionada pelas entidades que representam os trabalhadores em educação, denunciando
a não há transparência quanto a real destinação dos recursos aplicados.
Com
a implantação da LDB em 1996, foi estabelecido o PNE (Plano Nacional de
Educação), cuja meta seria pressionar o governo federal, para que num prazo de
10 anos, destinasse 10% do PIB à educação básica. É estarrecedor quando se sabe
que nem 6% foram garantidos nos dez anos da implantação da leio. Se as metas do
PNE fossem asseguradas, certamente a realidade da educação pública seria bem
diferente. A escassez de recursos para a concretização das metas, segundo o
governo, não justifica. Pois vejamos, se o governo adotasse medidas de combate
a renúncia fiscal e dos subsídios, entraria no seu caixa, seguramente, 3,7%
taxa básica de juros geraria 0,6% do PIB em recursos públicos para a união,
estados e municípios. Em relação aos recursos do Fundef, (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério),
implantado em 1997, entre 2000 e 2003, as despesas com o programa bolsa escola
foram computadas como sendo educacionais. A substituição do Fundef pelo Funde,
(Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação) ocorrida em 2007, foi corrigir a legislação anterior, garantindo um pouco mais de recursos para os estudantes do ensino infantil, médio, jovens e adultos e especiais.
Valorização dos Profissionais da Educação) ocorrida em 2007, foi corrigir a legislação anterior, garantindo um pouco mais de recursos para os estudantes do ensino infantil, médio, jovens e adultos e especiais.
Mas
o que é realmente gritante é quando as secretarias de educação tanto estaduais
como municipais, creditam despesas que não tem nada a ver com a real função do Funde
como o asfaltamento de uma rua próxima a escola; repasse de recursos para ONGs;
assinatura de revistas e periódicos; inclusão de despesas educacionais com os
professores cedidos a órgãos não educacionais, entre outros absurdos
As
políticas públicas aplicadas à educação básica estão sendo inseridas num
projeto político e social amplo, tendo por princípio a massificação da
sociedade, despolitizando-a e tornando-a acessível ao mercado produtivo como
mão-de-obra barata. É oportuno ressaltar que a renda das pessoas depende da
educação formal que receberam, enquanto a boa ou má educação de jovens e
adultos está condicionada a renda de seus familiares. A combinação desses
fatores faz com que nossa política educacional seja responsável pela
concentração de renda e da reprodução das desigualdades. A permanência dos
seguimentos mais pobres da sociedade na escola diminui significativamente ao
longo das séries escolares. Os índices de abandono chegam a um patamar
aproximado de 30% das crianças antes do final do ensino fundamental.
Do
lado oposto estão os mais ricos, cujo acesso à educação começa bem cedo e perdurando
por aproximadamente duas décadas, com investimentos que ultrapassam a dois mil
reais anos, sem contar, é claro, com outros gastos adicionais como cursos de
idiomas, música, esportes, etc., que ultrapassariam a centenas de milhares de
reais. Para termos uma pequena noção da nossa precariedade educacional, basta prestar
atenção na avaliação da PISA (Programa Internacional para Avaliação de Alunos),
vinculado a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento da Educação),
com dados de 2009, que examinou a proficiência de estudantes de 15 anos de 65
países nas disciplinas de matemática, leitura e ciências. Seguindo
uma escala que vai de um a seis, chegou-se a conclusão que menos de 1% dos
estudantes brasileiros avaliados alcançou média cinco ou seis, índice este
atingido por 10% dos estudantes dos países mais desenvolvidos. Com base nesses dados, tem-se a idéia do
nível instrucional dos nossos estudantes quando concluem o ensino básico. Os
que alcançaram melhores notas, certamente pertenciam às famílias mais abastadas
economicamente e estudaram em escolas particulares. Quanto ao ensino superior é
muito provável que os estudantes com melhores notas do (PISA) ocuparam a
maioria das vagas disponíveis dos cursos de excelência das universidades
públicas com boa conceituação do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Os
demais sobraram às universidades e faculdades particulares, muitas das quais com
qualificação abaixo da média, que oferecem cursos com forte apelo
mercadológico, ou seja, um currículo reduzido que não oportuniza o estudante o
mínimo de experimento e a pesquisa.
Os
países da América do Sul com exceção o Brasil, as duas Guianas, Suriname e o Peru,
vêm adotando políticas com forte investimento nos diversos níveis de ensino, e
o resultando são os dados de 2009, quanto ao percentual de jovens entre 15 a 24
anos alfabetizados e o percentual matriculado no ensino superior em 2010. A
Venezuela apresentou o melhor resultando. Dos 98,4% de jovens alfabetizados em
2009, 78% acessaram o ensino superior em 2010. A Argentina vem em seguida, dos
99,2% alfabetizados, 71% matricularam-se no ensino superior; o Uruguai ficou em
terceiro, 99% para 63%; Chile, 98,9% para 59%; Equador, 96,8% para 40%;
Paraguai, 98,8% para 37%; Colômbia, 97,8 para 37%. O Brasil foi classificado em
oitavo lugar, ou seja, dos 97,8% que concluíram o ensino médio, apenas 36%
tiveram acesso ao ensino superior. Por que poucos têm acesso ao ensino superior
no Brasil, especialmente a um ensino de qualidade? Uma das respostas parte do princípio
de que a cada ano adicional de escolaridade de um trabalhador implica em um
aumento da renda da ordem de 15% em média. É com base nessa resposta que se
conclui o motivo pelo qual o governo brasileiro vem investindo mais recursos na
implantação de escolas técnicas federais em vários estados.
Dos
37% de estudantes que acessaram o ensino superior em 2010, muitos estão
matriculados em instituições particulares, verdadeiros depósitos de estudantes,
com salas cheias e um corpo docente despreparado. Senão vejamos, ainda que se
possa parecer absurdo, a Lei de Diretrizes e Base da educação, lei 9394/96, não
exige que o corpo docente das universidades seja composto por doutores. A sutil
redação da lei exige que pelo menos um terço dos seus profissionais tenha
titulação acadêmica de mestrado e doutorado, ou seja, se a titulação exigida é
mestrado e doutorado, por que então contratar doutores que terão suas
remunerações maiores? Portanto, a lei deixa subtendido sua real finalidade. É Esse o Brasil que orgulha a elite econômica brasileira
que se vangloria com o titulo de sexta economia mundial? Uma das justificativas
do governo brasileiro para a abertura do mercado às instituições superiores
particulares é possibilitar o desenvolvimento dos estados mais carentes. Esse
argumento não condiz com a realidade, pois expressiva fração dessas
instituições está instalada nos estados com melhores condições econômicas. Somente
o estado de São Paulo, do total de estudantes matriculados, 87% estão nas
faculdades e universidades particulares. É preciso romper com esse paradigma
desigual que vem se perpetuando durante gerações. Para construirmos um país
realmente republicano, precisamos romper com essa situação perversa e criar um
sistema educacional onde todos sejam tratados de forma igualitária.
Prof.
Jairo Cezar
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