segunda-feira, 10 de março de 2025

 

A INVISIBILIDADE DAS MULHERES NA POLÍTICA EM ARARANGUÁ

Por meio de um projeto de lei do legislativo municipal de Araranguá, aprovado em 2002, todos os anos os vereadores e vereadoras daquela casa indicam uma mulher com algum trabalho relevante na sociedade araranguaense para ser homenageada com o troféu Alzira Rabello. É inquestionável a importância de um projeto de tamanha magnitude, onde passou dar visibilidade às cidadãs, muitas das quais anônimas, desconhecidas do público, porém, com extenso histórico de trabalhos sociais, assistenciais, em prol dos mais necessitados.

Sabemos que historicamente a mulher sempre foi vista como sujeito coadjuvante, de segunda classe, no processo civilizatório ocidental. Algumas conquistas de direitos elementares, como de salários, de votar e ser votada se deram por meio de muitas lutas e resistências. Mulheres trabalhadoras tiveram que sacrificar suas próprias vidas para que hoje milhões de cidadãs no mundo inteiro pudessem ter o mínimo de dignidade em suas vidas. Uma das grandes barreiras ainda hoje enfrentada pelas mulheres ocidentais ocorre na política, nas esferas dos legislativos e dos executivos municipais, estaduais e federais.

Nos pleitos eleitorais ainda são inexpressivos o número de mulheres eleitas para ocuparem esses respectivos postos, mesmo considerando legislações criadas como a que trata sobre cotas, obrigando os partidos políticos, inserirem em suas siglas, 30% de candidatas femininas, à disputarem as eleições proporcionais. Parece que tal legislação pouco efeito teve e está tendo na inclusão da mulher num campo sempre dominado por homens. O número de mulheres eleitas nos últimos pleitos para o legislativo, principalmente o municipal, ficaram muito abaixo do esperado.

Um exemplo de município onde a mulher é pouco presente no cenário político é Araranguá. Nos seus 145 anos de história política, quatro foram às mulheres eleitas para o legislativo, sendo uma mulher apenas para o executivo, claro que de forma interina, em substituição ao titular, em 1947. Permaneceu no cargo por 45 dias. Nos últimos dois pleitos eleitorais, 2020 e 2024, não chegou a 50 mulheres candidatas em cada pleito, que se dispuseram a se filiarem nos partidos e participarem da campanha a uma das 15 cadeiras do legislativo. Convém destacar que o número de homens que ingressaram a campanha nos dois últimos pleitos foi quase sempre o dobro ao das mulheres.

Se observarmos a lista total dos candidatos e candidatas e o total de votos recebidos/as nesses dois últimos pleitos, o que chama atenção é a posição que elas ficaram nessa tabela. Mais de 80% delas ficaram posicionadas nas últimas posições, com votações pífias. O resultado negativo delas nesses dois pleitos permitiu que eu fizesse uma breve reflexão: a inserção de expressiva parcela de mulheres nos partidos para as disputas eleitorais é possível acreditar que não ocorreu por fatores ideológicos, mas por cumprimento de legislação especifica sobre cotas de candidaturas.         

Diante dessa realidade um tanto estranha, se torna até paradoxal, em um evento tão importante como o  8 de março, alusivo  ao dia internacional das mulheres, que homenageia mulheres do município de Araranguá, de não ter sido eleita uma única mulher sequer  à vaga do legislativo. Afinal de contas, por que as mulheres no município de Araranguá continuam invisíveis, excluídas acerca do processo político, mesmo elas representando 52% da população do município?

O estranhamento da mulher não se dá somente no campo da política, em outros segmentos ela também pouco aparece. Nas mais de duas centenas de ruas existentes no território araranguaense, pouco mais de trinta delas tem o nome de mulheres escritas nas placas fixadas. É sabido por experiência que uma mulher ou mulheres atuando em espaços de gestão publica, legislativo, por exemplo, elas têm maior capacidade de construção laços de afetividade e de compromissos entre seus pares masculinos em prol de projetos de cunho sociais.   

Também, por outro lado, não ter mulheres ocupando cadeiras no legislativo municipal, por exemplo, garante ao homem certo empoderamento, domínio inconsciente de um cenário historicamente masculinizado e já incorporado pela sociedade como algo natural. A presença de uma mulher ali, desperta medo, fragilidade, de achar que a qualquer momento ele será desafiado. A atitude costumeiramente aplicada pelo homem nesses espaços masculinizados, diante da presença feminina, são comportamentos machistas, como forma de subjugá-las, inferiorizá-las.

Prof. Jairo Cesa